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quinta-feira, 23 de maio de 2013

Agora tanto faz

O despertador tanto fez para me acordar, que agora tanto faz. Vou pra aula com o cabelo bagunçado, o jeans açoitado e uma mochila velha. Presto atençao na aula, a lembrança dos recentes fenecimentos da minha vida nao costumam me perturbar enquanto trinta demonios gritam no mesmo ambiente que eu. O que me irrita é o alarido constante, me faz lembrar teu silencio contínuo. Seu fleumático jeito de lidar com o gelo. Sua pele parece impermeável, e eu sinto tanto a sua falta.
Estou voltando pro inferno, agora tanto faz.

domingo, 19 de maio de 2013

Peso do mundo

Acordou de mal jeito naquele sábado.
Estomago embrulhado por conta do sentimento de nao conseguir concluir nada direito. Havia bebido demais na noite anterior e acordado diversas vezes desidratada, engolindo a golpes copos de água. Sonhara com um amor mal resolvido, mal terminado, dolorido até os dentes e ainda tremia. Era difícil engolir a saliva com gosto de medo de adormecer e sonhar novamente com aqueles olhos castanhos e agressivos, anfetaminados, doentes.
.....

Acordou de mal jeito naquele sábado. Pudera! na sexta feira já havia sonhado com calouros e isso também a fazia tremer. Ia mal em matemática e as provas já iam começar. Teve medo de compartilhar seu terror noturno com alguém, estava assustada. A verdade é que vivia assustada desde que voltara a sonhar. Tinha se esquecido da sensaçao abstrata e bizarra que se é submetida quando se resolve parar de tomar o sedativo inibidores de sonhos, os que tomou por cinco anos. Estes lhe serviam também como fuga da realidade, quando tomados em doses brutas acompanhadas de vinho tinto.
Já se faziam trinta e duas horas desde o último comprimido do novo tratamento e ela nao queria ter de toma-lo para afastar essas sombras de tragédia.
 Olhou-se no espelho. Os olhos úmidos, a boca seca, pele sem cor. Sem motivos, achou-se até bonita.
 Procurou entao outra fuga, qualquer coisa que distraisse sem dilacerar e sem deixar um bocejo químico. Porém tudo estava limpo, limpo até demais, Provavelmente tinha limpado o quarto muito mais vezes do que uma pessoa normal limparia. Havia garrafas de vinho, mas ela precisava parar de beber, precisava mesmo.
 Sentia também um medo incontrolável de sair e ser chata, séria, detestável, ironica e trancada no proprio mundo da desvontade de socializar. A bebida faria isso por ela, faria ela sorrir sem ter vontade.
 Decidiu derreter chocolate e voltar para a cama, onde tentaria dormir um pouco, já que a embriaguez havia passado e sobrava apenas a ressaca moral.
 Enquanto movimentava a colher na panela, percebeu que suas unhas estavam compridas e exatamente vermelhas! Sentiu vergonha, Sentiu-se promíscua e ridícula.
 O cheiro do doce logo a fez esquecer do detalhe gritante e entao lembrou-se de Léo. O pequeno, que vivia com o pai dela, tinha imensos olhos famintos de carencia. Poucos tres anos e já se via muito naqueles olhos. O pai era um bruto, um tosco, de tristes olhos identicos aos dela. Recentemente, este abriu uma ferida no peito da menina que ninguém ousaria dizer que ela vai cicatrizar. E nao vai.
 Balançou a cabeça, tentou esquecer a cara do homem. Nao conseguiu. Imaginou o pai morto, e pensou se seria capaz de chorar.

Seria. Claro que seria. Choraria de raiva e afliçao, a mesma coisa que ela sente toda vez que o lembra vivo.
Depois sentiu culpa, tudo isso deve ser errado, ninguém pode imaginar o proprio pai morto. Que coisa mais kafkaniana!

 Lembrou-se do padrasto que partira sem se despedir, largando a mae nas mínguas de todo o dinheiro que lhe faltava, do velho só sobrou a cadeira de balanço com a vista sinistra que ela gostava de ver. O dia amanhecendo atras do pé de cajú morto, da lembrança cruel da jabuticabeira, do pé de limao que vivia lhe espetando os dedos, e este ficava encostado no muro da casinha dos fundos, onde fora gravado a ferro: Marcos, Marcela, Murilo. Em breve a casa seria vendida e a menina nao teria outra lembrança do falecido irmao menor. O mais velho agora era um homem, e já nao conversavam. Nunca conversaram. Ela só sabia falar de livro e alcool, nada do que ele gostava. Pensou consigo "como é engraçado nao conversar com o homem que mais amo na vida"
 Sentiu-se só. Sentiu-se burra. Sentiu-se vazia e por fim, quase morta de tristeza.

Lost And Delirious

“Make me a willow cabin at your gate,
And call upon my soul within the house;
Write loyal cantons of contemned love,
And sing them loud even in the dead of night;
Halloo your name to the reverberate hills,
And make the babbling gossip of the air
Cry out 'Olivia!' O, you should not rest
Between the elements of air and earth,
But you should pity me.”
 ....
Victoria: "I mean I love Paulie, you know that I do. She's my best friend in the world and probably the only person that I will ever love like, like in the way that...Cleopatra" "And to hurt her, its like I'm choking, like I'm not in the breathing world."

 Pauline: "Liar! Liar, Liar, Liar! You've all got your heads up your assholes because love is. It just is and nothing you can say can make it go away because it is the point of why we are here, it is the highest point and once you are up there, looking down on everyone else, you're there forever. Because if you move, right, you fall. You fall."


 

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Assassinato

....Doze ou quatorze passinhos apressados e vira-se com exata decisao para a esquerda. Isso tudo dura um ou dois segundos, ou até onde os olhos conseguem agarrar, mas nunca é muito, e quando se pisca, finge-se que se esqueceu o percurso, e que este, nao lhe tinha importancia qualquer. Adeus, adeus.



Cem dias. Foram cem dias até me acostumar, ou melhor, conseuir digerir essa refeiçao pesada demais pra alma. Cem dias pra compreender o erro, e depois rir triste. É engraçado o riso triste. Um sorriso cansado e inerte, tempo demais sem dormir deixa a gente meio louca, meus amigos. Tempo demais tentando resolver uma questao que nao é matemática e nem física. Química, muita dela. Nos remédios, nos frascos vazios, nas misturas que fiz na tentativa de misturar sua lembrança com o resto do lixo reciclavel. Porém estava tudo bem na minha frente, e nao pude ver. Vergonha de mim mesma define.
Percebi que me apaixonei por uma pessoa que nao existe, que nem nunca existiu. Apenas uma vez, em uma escada fria, tao fria quanto essa pessoa. E me apaixonei de tal forma, que caí tola, tonta, fraca, amarga.
De tao fria que minha amada foi, precisei ser quente por nós duas, sem perceber que ela nunca tinha desejado ser aquecida, e com o calor, sufoquei-a, joguei meu amor escadaria a baixo.
De tao quieta, nao pude perceber a queda, e eu, tao, mas tao tola, demorei cem dias para conseguir entender.

domingo, 12 de maio de 2013

Disseram que pela madrugada avistaram meu pior inimigo. E se parecia comigo.
Ela poderia falar com os anjos se quisesse. Ela poderia qualquer coisa.
Uma infinidade de confusoes, me liberte, ou me agarre firme. Tenho te amado por mil vidas, deixe-me viver a última, eu imploro.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Felicitá

Entra um vento gelado pela janela, mas dentro de mim está quente. Felicidade rara de encontrar, principalmente em um inverno desses, onde tudo está fora do lugar. Já escrevi um milhao de poemas, mas nenhum sobre este estado curioso que é a felicidade.
Por que deixei de falar de como é boa a madrugada? Como é que nunca ensinei a mim mesma, que o sol é bonito, sim. Mesmo quando eu via o mar, estava viciada em tristeza e nao pude sentir.
Sei que tempos muito dificeis ainda estao por vir, mas olha, de todas as mentiras contadas para mim desde que nasci, uma vez me contaram uma verdade que nao acreditei. O sol volta toda manha, e depois as coisas vao para onde devem ir. Ainda tem tempo para construir um alguém que eu vá me orgulhar de ser no futuro. Ainda posso me orgulhar de mim mesma, afinal, eu sou uma sobrevivente, e ainda sou tao jovem.
Viciada em tristeza, que coisa mais boba.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Desespero

Encaro cinema sozina, viagem sem acompanante, vodka pura, whisky sem gelo, tequila sem limao mas um cigarro atras do outro nao. Isso é desespero.
Aceito uma dose de desilusao, um dedo de desesperança, café sem açucar, livro sem muita graça, noticiario das sete.
Encaro trem lotado, sorriso barato, tres noites sem dormir, samba, bossa nova, blues, filme de velho oeste, pao amanhecido, mas um cigarro atras do outro é desespero.
Encaro o despertador cinco e meia de uma manha que só amanhece as sete, e nao floresce nunca.
Lido com a fotofobia  (o céu de tao azul hoje chega a ser patético.) Engulo o orgulho, mas cuspo na rua, um cigarro atras do outro, isso nunca, é desespero.
Aceito a arte insana de Dalí, e os elefantes sinistros que marcham em manada nos meus sonos quando durmo, se é que durmo. Encaro injeçao na veia, tres tarja preta por dia, Aceito a gravidade, ignoro o cansaço físico, burlo o mental. Devoto botanica, decoro a tabela periódica, permito-me a exaustao da física quantica.  Durmo com os óculos na cara, acordo forçada, choro a seco, me arrependo amargamente, aceito tudo que pode dar errado, mas um cigarro atras do outro? Isso é loucura.
Deleito em cianeto, mas veneno para ratos é tao fora de moda.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

A comédia da morte, cinco anos depois.

Se fazia cinco anos desde a última veneta.
Começo por onde eu quiser, acabou-se tanta coisa, inclusive a coerencia. Tanta coisa foi empalidecendo e indo embora.
Sabe, eu achava graça na forma que voce demorava pra comer.  Achava graça, meu bem, na forma que as sardas do seu rosto se evidenciavam com a claridade eufemista das nove e meia da manha.
Achava graça em tanta coisa, hoje nao acho mais, nem mesmo consigo me encontrar na minha propria cama.
"fico te imaginando, as tres da manha de toda manha, vestida tres vezes mais do que o necessario, rindo de mentira, com o cabelo preso formando uma pequena cascata atras da sua cabeça." -Nao imagino mais, mas ainda me lembro de um dia ter imaginado. Também lembro de todas as coisas que eu prometi pra mim mesma, sofrimento, nunca mais, nao... nao faz meu tipo. Eu estava decidida a nao deixar mais dor alguma entrar, e sem que eu pudesse perceber  voce foi parar embaixo da minha pele.
Meus versos perderam a cor
Perdi peso e cabelo
As chaves e o celular.
Me perdi de voce, e te perco de vista sempre que posso.
O mais importante é que perdi toda e qualquer esperança, e isso me impede de fazer tudo de novo.

Te odeio de mentira, e te amo de hiperbole, de mentira também, Tudo é mentira, voce é feita de confusoes e mentiras. Mas quem liga? Nao liga. Telefones silenciando a minha mente barulhenta. Eu apaguei seu número.
... Me lembro de achar graça na forma com que voce demorava para comer.
Agora acho graça nessa minha tortuosa demora para morrer, enfim.