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domingo, 17 de fevereiro de 2013

Não fez.

Tomei uma taça de vinho achando que me faria bem. Não fez.
Olha, eu estou cansada de ser superestimada. Todo mundo acha que eu tenho sempre a resposta para todas as coisas do mundo. Eu nunca quis ser prodígio nenhum, nem mereço prestígio algum, Tomei uma taça de vinho achando que me faria bem, e não fez.
Me enjoou o estômago, parou na garganta com gosto de vinagre, isso aqui não era vinho caro? Lá vou saber eu.... Eu não sou dessas que fica cheirando rolha não, nem movimentando o vinho na taça circuladamente, eu passei tempo demais cheirando cocaína. Achando que me faria bem, e NÃO fez.
Passei tempo demais sonhando com você todas as noites, pensando que você chegaria aqui e me faria bem, não fez.
Pensei que esse texto faria algum sentido, não fez.
O que eu estava fazendo mesmo?
Ah, o texto. Não fiz.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Gabriela


"Hoje os ventos do destino começaram a soprar... Nossos tempos de menino, foi ficando para trás."
E o que vem depois de nós?
Uma história mal escrita por bocas de pessoas que não contaram os grãos de areia que caíram da nossa ampulheta, mas tudo bem, acho que também contariam as gerações futuras o grande impacto pessoal que causamos em grande escala. 
Somos mais do que duas pessoas mas somos menos que o mundo inteiro, porque o mundo é um lugar sujo e feio, mas as vezes, nos fins de semana, tiramos um tempo pra brincar de deus e contruir o nosso mundo, sempre foi assim, né?
Antes, nosso mundo eram todas as tardes, tomando cappucino na calçada depois da escola, e oras, que tipo de criança toma cappucino na calçada nos fins de tarde discutindo política ou mulheres?
Sério, acho que somos únicas.
Únicas por nós mesmas. Te lembro nas intimações mandadas para que as outras amiguinhas ficassem longe de mim. (e talvez toda essa minha isolação da sociedade seja culpa sua, vaca.) E lembro as intimidades trocadas, e as coisas mais constrangedoras detalhadas, e vermelha ficavamos rindo uma da desgraça da outra, enquanto o céu da praça do são dimas ia alaranjando-se, avermelhando-se conosco, e as vezes chovia, chuva forte, chuva de lavar as dores, e que bom que ainda não tinhamos dores! Corriamos pela ponte e na frente dos carros, ouvia-se buzinas e insultos, e o salão de beleza cor-de-rosa que ficava no meio do caminho pra casa era sempre o alvo das nossas alcunhas, pulavamos nas poças d'agua sem se importar em estragar o tênis ou a calça cara que você pagou dando a bunda pra uma empresa que faz papel que eu enrolo fumo. 
E quantas pessoas já passaram por nós, e decifravamos apenas pelo jeito de andar ou de mover as mãos. Deciframos tanta gente, tantas provas de português, e hoje, fica um pouquinho difícil de nos decifrar, e quando a chuva cai, nunca mais saí pra me molhar. Mas ainda decifro o enigma maior do mundo, de onde viemos e pra onde vamos? e a minha resposta é: Não importa. Eu tenho você.
E vou ter pra sempre. A cada porre que você tenha segurado meu cabelo ou me procurado em pleno coma alcoolico no meio de um matagal, ou toda vez que eu tiver que te arrastar pelas pernas de um ralo sujo e cheio de vómito, nossa, cheguei num ponto tão poético da história né?
Ah! Os bares. As mesas de bilhar. As máquinas de música. A cerveja merecida, a saudade que parecia dividir-nos, que bom que não nos afastamos, como a lei da vida sempre prometeu, que bom que as vezes ainda deito contigo no gramado de qualquer praça olhando pra lua e falando sobre coisas melancólicas ou talvez não.
Nossa, como o tempo passa rápido. E o futuro me assusta um pouco, mas depois de tudo, eu sei que ninguém de nós duas vai embora. Esse é o combinado, esse é o trato. E "eu não vim até aqui pra desistir agora"
Desistimos de ser rockstar e desistimos de entender as mulheres, desistimos de usar salto alto e desistimos de vícios mortais. Mas não vamos desistir de nós, por mais que a cada ano que se passe, ficamos um pouco mais velha e chatas. 
Só que um dia prometemos que iamos acabar num apartamento no sétimo andar, com um pequeno jardim plantando morango e cactos, com alguns gatos fedorentos, fumando mais do que nosso pulmão poderia aguentar, pedindo pizza todas as sextas-feiras enquanto assistiriamos documentários sobre os psicopatas e sobre as guerras que vemos hoje, mas amanhã será lenda, e com a mão engordurada eu ainda vou ter humor pra esfrega-la na sua cara, daquele mesmo jeito que você sempre odiou, e prometemos isso, não prometemos? Envelhecer balançando numa cadeira de madeira bebendo whisky e falando de mulher.
E sabe de uma coisa? Depois de toda essa coisa morna e de todos esses anos te devendo uma porra te texto, eu confesso: você não é muito mulher, mas é, com certeza, a mulher da minha vida.

E isso não é uma declaração de amor, tire sua mão da minha bunda, escrota.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Eu me recuso


Me recuso a ser como todas essas pessoas que acham que pra viver, precisam de outra pessoa.
Me recuso a acreditar nesse conto de fadas, me recuso a acreditar em qualquer conto de fadas, esses contos são tão demoníacos e ninguém vê, pelo brilho ofuscante e irritante das capas dos livros.
Me recuso a acreditar no paraíso celeste, me recuso a seguir  a moda, me recuso a tratar a mim mesma tão mal a ponto de jogar a carcaça do meu corpo num sofá todos os domingos alimentando meu cérebro com lavagem pra porco, como é que dizem? l a v a g e m c e r e b r a l. Todo mundo está sujeito.
Me recuso a pular carnaval, a ouvir a rádio em horário de pico, me recuso a ouvir gente que quer tanto falar mas não sabe dialogar, me recuso a fazer parte de grupos decodificadores de seres humanos, me recuso a ser filha do sistema cartesiano, me recuso a dizer que vai ficar tudo bem quando sabemos que tem coisas que não vão ficar bem. Não vão nem ficar.
Me recuso a andar de mãos dadas, me recuso  a pertencer à alguém, eu protesto contra roupas brilhantes que distraem a atenção do dos brilho maior que são os olhos, e tem gente que tanto tem e nada tem pra mostrar pela janela da alma.
Me recuso a dividir minha cama e meu sexo com gente vazia, me recuso a tatuar borboletinhas no tornozelo, me recuso a usar salto alto e um bando de pulseiras barulhentas. Me recuso, por fim, a usar essa camisa de força justa desse jeito.
Alguém pode afrouxa-la pra mim?

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

"Se livrar de tudo que te faz mal"

A semana sempre corre bem, sempre tudo dentro da rotina. Quase sempre. As vezes, durante as quarta-feiras, eu interrompia minha vida íntegra pra andar alguns kilometros e  encontra-la assim, daquele seu jeitinho, sua voz serena, sua metralhadora de palavras. Era a minha namorada, e ninguém sabia, só mesmo nós. Te encontrava, deitavamos e a apertava bem forte e dizia que ia tudo melhorar, que ia tudo passar. As vezes te segurava os cabelos enquanto você metia a cara dentro de um balde e vomitava o puro alcool ingerido na tentativa de curar suas feridas internas. Eu não apoiava, nem criticava, apenas segurava seu cabelo e depois preparava água com áçucar, tirava seus sapatinhos de boneca, te preparava um banho quente, levava bem seu rosto e te borrifava algum perfume vagabundo. 
Eu achava mesmo fascinante, era contigo que eu acreditava que a vida era interessante. E eu mantia a calma e dizia pra você se focar, pra voce se esforçar, pra se livrar de tudo que te fazia mal. Tentei te levar pra jantar, dançar, ouvir música, passear, ir ao cinema, mas nada, nadinha disso adiantou, nosso romance era de novela, aqueles proíbidos, aqueles negativos, aqueles sofridos. Tudo isso passava quando uma metralhadora de letras atacava meu celular ou minha caixa de e-mails, todos confusos, todos engraçados, todos bonitos. Bonito. Ela era tão Bonita.
Mas eu sempre pensava que não ia adiantar, que ela nunca ia me ouvir, que hora ou outra sua cabeça oca ia estar dentro de um balde laranja de novo, e eu não negava nada, só queria deixar fluir, pensei que curaríamos uma a outra, mas...
Um dia ela se cuidou, parou de bobagem, de drama. Parou com tudo aquilo, e se livrou de tudo que lhe fazia mal. Fiquei tão feliz com a última mensagem, tão feliz! 
Só depois me toquei que não podia responde-la. 
Você estava melhor. Havia se livrado da vodka, do balde e de mim.

Se você visse como fiquei ainda mais parecida com você

Cada dia que se passa, mais pareço com você, ando tão às minguas, qualquer música me lembra seus passos, e ando, ando e ando por aí e cada cantinho desse bairro tem um pouquinho seu, e ao andar, percebo que meu andar anda se tornando o seu.
O modo de olhar, (a mesma cor do olho!)
O modo de falar (a mesma dificuldade em se expressar!)
O modo de me distrair ( e entreabrir de leve os lábios)
E o modo como sento no degrau da sala, com o cigarro fedorento entre os dedos, tudo isso, toda essa herança genética você deixou em mim.
Você só não te deixou em mim.
Ô, Pai, se você visse como sua menina cresceu, Se você visse a porção de troféizinhos que acumulei com aquelas redações "bobas", que você sempre tava cansado demais para ler. Ô, Paizinho, se você visse como aprendi fazer café do jeito que você gostava, se você tivesse aqui pra ver que eu também aprendi a gostar de café forte e sem açucar. Se você estivesse, quem sabe a gente poderia tomar um café juntos no quintal, olhando o cajueiro (ele voltou a dar cajú, será que você sabe?) Se você visse o quanto estou indo bem na escola, o quanto meu cabelo cresceu, e como eu aprendi a não deixar mais as luzes acesas pra economizar energia, se você visse, se você visse como aprendi a deixar tudo tão organizado, meu quarto tá tão bonito hoje, pai.
Mas você não viu.
Saudades.
ass: Tata.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Moça

Olha só como ela se esconde na própria sombra.
Olha só como a pele é frágil, desacostumada com o contato do meio-fio sujo onde estamos sentadas, largadas, bêbadas.
"Como é feio quando uma moça bebe demais" sempre ouvi por aí.
Mas você continuava linda.
Sempre te conhei e nunca tinha te visto em lugar nenhum, mas cá estamos, moça, me passa o rum.
Que coisa mais maluca essa mania de trocar as sílabas das palavras quando estamos nervosas. E que loucura estar nervosa. Somos só eu e você.
Nós podemos conversar sobre o que você quiser, desde nossos desastrosos tarjas pretas dos quais tomamos a mesma receita, podemos falar dos efeitos colaterais, ou eu posso baixar os olhos e sorrir dura, que é exatamente o que acontece quando estou medicada, as pupilas dilatam e a pressão sanguínea vira uma  bagunça. Então baixo os olhos e você pode continuar falando e falando, com sua voz meiga, um montão de coisas sem sentido. Eu aceito, rio, te abraço e te dou um beijo.
Vai ficar tudo bem, não vai?
Seguro sua mão como quem segura qualquer coisa valiosa demais, e você diz que minha pele é macia, e as ruas estão vazias, já é bem tarde, noite de quarta-feira, duas garotas perdidas nas proximidades de suas casas que sempre ficaram tão perto uma da outra mas mesmo assim, nunca nos vimos.
Duas garotas sob os incomodos faróis de carros que passam clareando suas coxas brancas, brancas.
Tenho o ímpeto de te roubar pra mim, moça.