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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Assinado: ninguém

Se o som da sua voz se perdeu em meio a tantas coisas dentro de mim, de que serve a música? Se a luz do teu sorriso não ilumina mais minhas noites, minhas lanternas devem ser jogadas fora. De que adianta seu "eu te amo" sintético, de que adianta pra mim, que sempre estive em ti, e agora ja não sou mais capaz de reconhecer suas verdades, uma vez que deixaram de ser minhas. De que servem teus versos, tuas danças, se não me pertencem, Amanda? Servem, de fato, para colorir o mundo, tudo que o habita e todas as pessoas que nesse pedaço de terra caminham. Mas o que posso eu esperar, minha querida, se não pertenço a esse lugar? Como uma estrela cadente, você passou rápido demais por aqui. Restam faíscas, restam migalhas, resta apenas um pedaço meu.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A serpente viva

Um oceano de lágrimas me fizeram perder a direçao, e junto dela, qualquer inspiraçao.
Quando estás perdido em mar aberto, todas as coisas bonitas vao embora, tudo mais vai embora.
Eu precisei de apenas um sorriso teu pra encontrar a terra firme e firmar as maos de volta nesse teclado empoeirado, fazer a análise semantica do teu olhar unicamente maquiado e daqueles cabelos desvairados que encontrei no sábado passado.

Garota, tua existencia faz a ciencia da alegria plena e silenciosa
Deslizando como uma serpente viva nas curvas mais minunciosas de um rio fresco, cuja nascente parte da imensa magnitude astral das estrelas dos teus olhos.

És uma criança, também és uma mulher. É a virtude e o pecado, és tudo, menos tristeza.
Das lágrimas que rolaram pelo teu rosto, todas elas fizeram brotar uma flor. Tens o dom de nao deixar rastro de dor.
Como uma serpente viva e colorida, daquelas que aparecem em sonhos pueris ou em parques infantis.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Hoje eu consegui sorrir.
Por algumas horas, me senti quase humanizada novamente.
Em relação a todos os meses que a fio se passaram coerentes com a minha total isolação do mundo externo, nem um fio de sentimento concreto se passou por aqui, no meu córtex esquerdo cerebral.
Hoje eu consegui sorrir!
E tamanha foi a surpresa que nem parei pra pensar na probabilidade que junto à dilatação dos meus músculos faciais, o mesmo efeito poderia surtir a respeito daquela coisa contraída aqui no peito, aquela coisa que soava abstrata, surreal.
Fotografias, móveis brancos e cortinas finas. Definição da saudade, concretização de que a probabilidade era enorme e não falhou.
Vi o sorriso de uma, e senti saudades de outra.
Apanhei nos braços uma moça, e senti seus braços e sua voz e sua lama e sua desgraça.
A poeira, o fim, a partida, a despedida boçal, a abismal diferença dos dias em que era você nos meus braços e não outra moça.
...
Eu tinha esquecido o quanto era bom sorrir, mas também tinha esquecido o quão ruim é ser humana.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A respeito das coisas que eu perdi

Quem nunca se desesperou ao vasculhar os bolsos da jaqueta ou o fundo da bolsa de pano e perceber que as chaves da sua casa não estavam mais lá?
Quem nunca bravejou ao erguer os olhos para o muro de cimento -ou de tijolinhos vazados- ao pensar que teria que escala-lo, sabendo que isto lhe renderia um esfolamento nos joelhos ou na palma da mão?
As chaves deveriam estar ali, e não estavam mais. Elas haviam se perdido no meio de algum caminho e agora você não pode entrar no seu próprio lar.
Isso é tão doloroso quanto soa ser dentro da minha mente ou dos meus bolsos?
Aquela nota de cem reais que você trabalhou duro pra conseguir e percebeu que colocara na carteira rasgada?
E sobre aquela arquitetura ou projeto de plano que você perdeu o desenho dos alicerces? 
Quando as estruturas parecem bambas e você sabe que podem vir a ruir mas prefere acreditar que não....

Das coisas que perdi, das mais fúteis até as mais relevantes, do sono à capacidade de sonhar.
Das chaves de casa ao celular, o beijo da moça bonita ao amor próprio.
Do peso e do cabelo, das aulas e das noites em claro, da luz da tevê ao seu livro preferido que ficou numa estação de metrô.
Da infância, do pai, até aquele casamento que não deu certo.
Só quem perdeu um irmão, um melhor amigo ou um filho.. Só quem prefere acordar depois que o sol se põe e perde o anil do céu e as nuvens que se transformam lentamente em elefantes ou xícaras de café.
Só quem sabe que as cinco da tarde a fumaça do cigarro fica mais densa num gramado qualquer, quem sabe a dor de se sentir inútil, incompetente, maleável, sórdido, torpe, drogado.
Quem sabe como fica áspera a garganta depois de um porre de conhaque barato, e aquela viagem que você planeja a dois anos e nunca nem foi até o cachê da rodoviária.
Só quem já perdeu a vida por alguns segundos e segundos cronológicos depois perdeu tudo que havia nela. Só quem não tem mais capacidade de rir do logotipo de um energético ou da apresentadora de tevê.
Só quem ficou ranzinza e pintou as paredes da vida de cinza...
São estes que entendem a dor de perder as chaves de casa. 


quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Não sei se é a ansiedade ou a desesperança
Não sei se é o desespero ou a comodidade
Não sei se é o arrependimento ou a insensatez

Se eu tivesse usado uma roupa mais bonita, se eu tivesse dito melhor as palavras, se eu tivesse segurado sua mão com mais força, você estaria aqui?
Se eu não tivesse borrado tanto a maquiagem
Se eu não tivesse chorado em público
Se não fosse a saudade, a chuva, o barulho
Se não fosse aquela festa medíocre e o doce de morango que te comprei
Se eu tivesse, no lugar, comprado uma cerveja só pra mim
Você estaria aqui?

Se não fosse meu eu sempre bêbado
Se não fosse a tremedeira nas mãos
Se eu tivesse usado um perfume diferente
ou cortado o cabelo mais rente
Será que ainda existiria a gente?

sábado, 19 de outubro de 2013

Datas e poeira

Chega de se esconder da sujeira, eu disse a mim mesma.

A sujeira está em todos os lugares, não há quem possa deter a poeira que entra pela janela sem pedir licença e se acomoda em cima de nós, embaixo da cama, na gaveta da cômoda.
Gaveta aquela do teu quarto desarrumado, vestígios da nossa própria existência vil, desajeitada, nosso passado bagunçado e passado a limpo mas nunca, de fato, límpido.
Que joguem baldes de água fria em cima de nós: de ti não solto tão rápido.
Que a água desça pelas escadas e molhe o pé do sofá, sofá que nos acomodou naquele dezembro bêbado. Você me ajuda com as datas, eu com os detalhes. A espuma da cerveja mudou de cor, no dia vinte e cinco de dezembro, a música que tocava? não me lembro...
Mas você se lembra, e não sei como, lembra cada detalhe do que eu deixei vazar pelo ralo.

Dia dois de janeiro, me joguei em teus braços, as lágrimas escorriam deixando um rastro pelo meu rosto  conspurcado, e teu cabelo cheirava tão bem [...]

Eu não me importo mais com a sujeira, eu esqueço todo aquele passado indecoroso quando estou deitada em teu peito, e te ouço vivendo sem se exaltar, te olho dormindo feito criança, e me perco quando tento levantar da cama e você me segura sem nem ao menos acordar.

Fingi que dormia, foi só pra te ouvir falar.

Desculpe por fingir, mas tanta coisa foi simulada, dissimulada, arremedada e tanto foi guardado, que nem posso explicar. Palavras não bastam e nem surgem quando tento te decifrar.
És pra mim coisa única, tesouro raro, não suportaria perder outra vez. E é por isso que não me arrisco a te ter nas mãos, e é por isso que não digo aquelas palavras esperadas, por conta disso eu me calo.
(a lua do teu quarto é tão bonita)
Eu gostaria de ter dito.
(O som da tua risada é coisa celestial)
Eu gostaria de ouvir sempre.
(Nunca mais me deixe só)
É o que passa pela minha mente quando me nego a  te conceber meus pensamentos.


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Eu não quero mais falar de amor.

Se eu te contasse que não amei aquela que veio depois de ti, e nem a que veio depois desta,
Se eu te contasse que ainda te tenho em sonho, e que o cheiro do teu moletom preto com letras azuis nunca saiu do meu colo
Se eu te contasse que meu abraço é vago, meu peito é vasto e meu sorriso é de plástico...

Se eu te contasse também que nem por um minuto deixei de te amar...
você iria acreditar? EU mesmo iria acreditar?
Eu não quero acreditar, eu não quero nem pensar...
Amor, palavra antiga, palavra tosca, inóspita.
Dolorida até os dentes, morde forte junto com a saudade doida, doída, da ida.
Eu não quero mais falar de amor!
De que me adianta falar, se você sorri mas não gosta, se você olha e recua, mastigando essa coisa crua...
E eu, um homem sem nome, poeta desnobre das letras disformes.
Rogo que te desdobre dessa tua tristeza sem pé nem cabeça,
Quem sabe assim não descobre
Sem eu precisar dizer palavras, e poder lançar aquelas cartas todas as traças.

Eu não quero mais  precisar falar de amor.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Ninguém há de amar

Olhei-me no espelho e me senti agredida pelos (poucos) anos.
Prendi os cabelos, e olhei profundamente dentro dos meus próprios olhos. Não, não eram os anos. Os anos são coisas boas, a vida deve ser uma coisa boa. Uma coisa boa que desconheço.
Me senti então agredida por mim mesma, e toda a violência foi refletida nos braços, nas marcas, no sal dos olhos.
Quem há de amar aquela que se destruiu sem precisar de ajuda de ninguém?
Quem há de amar aquela que se restringe a diálogos monossílabos
E picota os cabelos todas as vezes que se sente triste
Quem há de amar aquela que se sente triste o dia inteiro?
Ah! as minhas faculdades. Minhas habilidades que se resumem em auto-destruição
Punição intensiva, pecadora assídua, vazia.

A chuva se derramava como um carinho ou lembrete de que a vida existe de verdade.
O estômago doía como um alarme de que eu deveria continuar viva.
A escuridão era uma outra porta, outra opção.
Vocês alguma vez já se sentiram como se não pertencessem ao lugar onde nasceram?

Ah, não, ninguém há de amar, nem a mim, nem ninguém
Todos hão de se vangloriar por conquistas que nem são de fato, mérito próprio.
E hão de destruir a terra que vos alimentam
E o mundo que suporta os nossos sapatos cederá
No lugar deste, uma enorme depressão se abrirá, quente como o diabo
Morreremos todos queimados pelos nossos próprios desejos sórdidos




Sempre achei que a pior dor era o aperto no peito.
Eu nunca tinha prestado tanta atenção no vazio. Foi então que percebi que o aperto é produto do nada.
Meu vazio que sempre enchi de futilidades até quase explodir, por isso, a pressão e a dor.
O vazio sozinho não dói. Zero vezes zero sempre será zero. Não importa quantas vezes eu erre na prova de matemática.
Mas e quando o vazio começa a ser questionado? E quando foi que permiti a mim mesma investigar as causas que me levaram a ser o que sou? Eu fugi tanto de psicólogos e psicanalistas. Eu sempre me entupi de remédios pra não precisar justificar nada. Eles sempre falaram por mim. Sempre dormiram e acordaram por mim. Nunca tive o trabalho de fechar os olhos e contar até dez, cem, mil, pra conseguir me acalmar. Ao contrário disso, sempre engoli dez pílulas, duzentos miligramas psicotrópicos e flutuei sobre o mar violento sem precisar nadar contra a correnteza. Exatamente, eu flutuava.
Nunca me veio a ideia de que o meu mar só fica bravo porque nunca lhe permiti a calmaria.
A verdade é que não sei onde encontrar a calmaria. Eu não sei muito bem do que gosto. Eu nem sei se sei gostar.
Agora o vazio é tão grande e preenche todo o nada. O vácuo do meu peito refletido no córtex esquerdo super-saturado.  
A solidão é tão clichê, me desculpem, eu nunca quis falar dela.
O desespero é tão comum, eu nunca quis poluir literatura com clichês, mas me desculpem, leitores, eu estou desesperada e completamente sozinha.

Acendo um cigarro vagabundo atrás de outro, tenho a impressão de que o mundo cheira mal.
Saudades eu sinto da serra de São Pedro, onde o aroma era fresco e as coisas cheiravam simplicidade e tudo era feliz. A rede, os peixinhos. (Acho que estou enlouquecendo)
Saudades do cheiro da tinta vermelha no cabelo e da tinta roxa na parede, saudades de quando eu conseguia abraçar as pessoas sem me sentir um incômodo, sem me sentir pedindo um favor. Eu detesto pedir favores.

Ah, me desculpem pela subjetividade.
Me desculpem por tudo.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Romantismo de bituca queimada

Outra vez ergo a voz em um timbre falho e outra vez ao rodopiar a bailarina cai e esfola os joelhos.
Tinge de vermelho a meia-calça cor de rosa, sorri sem estar feliz, força os músculos da coxa e se levanta sem olhar pros lados. A dor assola a sola dos pés e continua sorrindo, as vezes, só rindo.
Rir de que? Rir por que? Rir pra quem, hora essa, um relógio parado no tempo sorri marcando dez pra uma da manhã.

Outra vez ergo o punho e ao cair o manto negro da madrugada você treme.
Treme, teme as bombas de gás de efeito moral devastando a visão de dois palmos a minha frente.
Moral- mortal- mordaz. Ácido corroendo retinas talvez nem tão inocentes assim.

Se eu pudesse, nunca teria reparado nos olhos da criatura de alma áspera e pele macia.
Amor maciço, amor de bituca queimada, que se fuma até o final, por desespero ou desesperança. 

Outro dia, outra saudade, outra desesperança, outra dor, outro cigarro é aceso sem a necessidade real de aliviar um vício. Outra vez ele chega ao fim, outra vez a fétida bituca cai ao chão.
Outra vez perco a direção dos olhos e perco a noção do tempo, e de novo, sinto vontade de destruir algo grandioso.

Ah, o romantismo de bituca queimada nunca me levou a lugar nenhum, nem nunca aliviou dor de alma ou de joelho, nunca... Apenas amarelou os dedos, os anos, os dentes.

Dentes que devoram amareladas paginas de pretérito imperfeito, por ter sido perfeito demais.
O tempo cura o joelho esfolado, dope tranquiliza o olho dilatado, mas nada, ninguém, e nem todos os cigarros apagados no cinzeiro do lado de fora da janela
Conseguem amenizar a falta que sinto dela.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Quinto inverno no inferno

O segundo inverno só chega nas noites em que ele se faz quatro vezes ao ano e ninguém percebe
Ninguem percebe o frio que atinge a espinha nas manhãs de segunda-feira
Deus do céu, o diabo bate a minha porta de forma interrupta
E o céu está tao distante do que podemos ver
O paraíso é  a gente que cria
Se matassemos toda a gente desse lugar
Aí sim seria um bom lugar pra morar
Pois perdi a fé na humanidade no momento que morreu a reciprocidade
Se é que, de fato, um dia ela existiu.
Mas não nego que uma parte de mim morreu
No dia que você desistiu, partiu.
Se você de vez em quando lembrasse de mim
E na bagunça do teu quarto
Encontrasse aquele par de sapato
Que de proposito esqueci em tua casa
Quando me chamastes de anjo, arrancastes de mim uma asa
E agora, sem poder voar, vivo a procurar
um motivo que seja, pequeno, por que não?
Um pequeno motivo pra te odiar
De forma grandiosa, inescrupulosa, te odiar.
Te detestar pra ver se um dia desses
deixo de te amar
Quem sabe, querida, no quinto inverno?
Enquanto isso, vivo de paraíso em paraíso
Me drogando de poesia barata
Injetando heroína abstrata

Dor de junta

Era certo que as mãos doíam.
Nada se podia fazer a respeito, no entanto, gostaria muito que parasse de doer.                                        Uma mente barulhenta daquelas só se acalmava com uma caneta na mão, e a fricção da esfera azul-escuro se tornava um pouco mais grosseira a cada hora que passava, e como passavam rápido!
Da mesma forma, essa esfera azul também gira com demasiada pressa, e eu envelheço maldizendo os anos.

Certo dia, alguém me disse, que nesses dias cinzentos, desses invernos mal decididos, perdidos, desses que aproveitam uma corrente de ar qualquer e vem parar aqui perto da gente sem pedir licença e sem saber onde está. (Não se bate na porta de desconhecidos) Mas esse alguém me disse que nesses dias, parece que o tempo não passa.

Era ainda mais certo que o pescoço lhe doía.
E por que diabos era justo me doer o pescoço?
Eu preferia que dobrasse a dor nas juntas
Pra ver se junta tudo isso
E dói tudo que há de doer de uma vez só, sem ninguém precisar sentir dó.

Era certo que nada mais fazia sentido.

TEMPO

E é só quando os olhos ludibriam a mente que se torna possível enxergar com clareza as chagas pertinente a lassidão de uma alma pequena, esfolada e prostrada no chão.
É só ali, no chão de um quarto, esgadanhando com as afiadas unhas da mente a porta de madeira velha, turva, trancada, que se percebe o extremo da exaustidão de dezessete primaveras multiplicadas semi-abstratamente por um milhão de invernos.
Invernos estes que perderam a importância, a singela importância, desde quando a importância deixou de importar.
No lugar desta, foram colocadas um milhão de livros, um infinito de palavras escritas, alguns hematomas nos dedos e um constante esgotamento físico.
Não há mais tempo para acarinhar a pequena felina que implora por colo, não há mais tempo pra assistir ignobilmente a televisão junto a velha mãe, não há tempo para o por do sol e não há mais tempo pra poesia.
Não há tempo pra cuidar do corpo e do cabelo, nem mesmo da saúde, e tudo isso entristece, murcha, morre dentro de mim. Fecho o livro e fecho os olhos, sonho com poemas que não são meus.
Drummond, Meireles, Andrade.
Onde é que vocês, meus caros, arrumavam o tempo?
Pois agora o tempo passou e tranquilamente (ou não) vocês jazem abaixo dos meus pés, cansados pés.
E é só quando os pés latejam e os músculos doem que penso que talvez esse descanso nem sequer exista, e se existir, que coisa mais porca é essa do descanso divino ser embaixo da terra coberta de vermes?
Não há tempo para amar, e ouvi dizer que dessa vida só se leva o amor.
Não, não há tempo para janelas azuis, nuvens-de-algodão-doce.
Não há tempo de pensar, e pensando nisso entro em conflito existencial.
Ló-gi-ca.
Onde? Em mim? Não.
Nunca.
E na redundância do pleonasmo a vida segue e o relógio corre...
Sinceramente, perspícua e inegavelmente, não sei  bem por onde estou indo.
A porta (Ah, a velha porta) é estreita e o caminho é árduo, árido.
Não há água, só vinagre. Não há confiança, apenas dúvidas. Não há mais amizades, apenas corpos.
Corpos vazios, copos de vinho e o tempo a passar.
É só quando a garrafa chega ao fim que percebemos a falência do organismo inerte e corroído de álcool e hematomas. O álcool pra curar as feridas da alma, e a dor das feridas da alma pra desviar a atenção dos hematomas azulados que crescem de forma isômera abaixo de olhos opacos, retinas turvas e pupilas dilatadas, desgastadas, embaçadas.
Só aqui, já perdi tempo demais.




domingo, 8 de setembro de 2013

Peraí, meu bem, entendestes errado.
Tens mesmo essa mania de desfigurar a cara das frases com a sua arrogância e seu pessimismo, mas calma aí, meu bem, acende esse cigarro.
Flor do campo que foi meu, flor mais bonita de todos os campos, não murche.
Todas as outras vão murchar as seis da tarde, mas fique um pouco mais. É do teu perfume que falo.
Não, não me agrada essa sua dor, essa sua dor me machuca cada dia mais, por que é que não penteastes teus cabelos essa manhã?
Meu bem.. a cor de leite da tua pele azedou. Azedou, sim, morreu toda aquela coisa bonita, agora você tem os olhos sem direção, você entendeu errado....
Sempre entende errado. Olha: hoje de manhã um anjo colocou no céu um monte de algodão doce para que não fosse amargo teu dia. O que você faz? aperta pimenta vermelha entre os dedos finos e esfrega nos olhos pra não ver. Pra não ver que o dia é bonito, que a vida é bonita, ei, apaga esse cigarro, meu bem.
A fumaça embaça o espelho e te impede de ver sua própria beleza.
Ah, e que beleza rara, que beleza miúda, que doçura tua pequenez.
E aquele ego grande? e as grandes frases? onde foram parar, meu deus do céu, o que foi que você fez consigo mesma? Cadê a grande mulher que conheci naquela escada estreita?
Meu bem, minha querida, sei que não sabes, sei também que nunca mais direi, mas eu estou aqui por ti, e sempre estive, sempre estarei.
Não se esquece aquela flor que um dia perfumou sua vida.
Exala teu perfume, respira fundo, clareia a mente e segue em frente,
Segue sorrindo até o infinito, que teu sorriso é bom.

Eu nunca tinha reparado na grandeza da Lua.


Amor: subst. masc. 1. Afeição profunda a outrem, a ponto de estabelecer um vínculo afetivo intenso, capaz de doações próprias, até o sacrifício.



Nunca tinha reparado na grandeza da lua antes de ve-la surgir nos seus olhos e se despedir com o nascer do sol do teu sorriso de até logo.
Eu nunca tinha reparado na grandeza da lua, até a noite que eu fiquei pequenininha nos seus braços.
Estamos diante de uma enorme afronta aos românticos, astrólogos, físicos, religiosos ou meros observadores do céu: Eu nunca tinha reparado na grandeza da lua.
Eu nunca tinha estudado cinemática até sentir vontade de entender os movimentos do teu corpo, braços, pernas, quadril, piscar de olhos. Vetores do meu incomensurável desejo de estar perto.
Você, a quem escrevo, devo, não só total agradecimento por me fazer reparar nesse superno Luar acima de nós, como devo-te a imensidão de todo o céu, como única representação possível da quantidade de amor que nasceu em mim.
E por todas as luas que passaram e pelas que ainda hão de passar, digo, respiro fundo e grito:  AMO!
Seria eu merecedora do amor, ou pelo menos capaz de senti-lo?
Amor, pode representar qualquer coisa, principalmente hoje em dia, quando a futilidade toma conta dos dias e dos seres, mas tu, criatura, é a personificação do amor, aquele amor puro, aquele amor de verdade, talvez por ainda não ser. E por isso acredito que seja.
Não posso dizer que sei amar, mas posso aprender, se estamos nessa caminhada é pra aprender, assim como aprendi que torces o lado esquerdo do lábio quando fica brava.
Assim como aprendi a amar teu jeito de estar brava.
Assim como aprendi finalmente, que esse tempo todo fui apenas uma parte, jamais um todo de mim mesma. E estou aprendendo a me tornar plena e absolutamente tua, até mesmo antes de mim.
Afinal, quem serei se não do teu lado?
Outra vez ninguém, outra vez metade.
Hoje, amor, a Lua está tão bonita.


sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Atrás da porta



Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei, eu te estranhei
Me debrucei sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
No teu peito, teu pijama
Nos teus pés ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua
Chico Buarque

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Procura-se Maria

Era uma Maria como qualquer outra Maria, dessas Marias que a gente pousa os olhos automáticamente no bar lotado antes de reparar em qualquer Joana.
Era uma Maria que conhecia apenas dos bares cheios de outras Marias. ( E Joanas,  Helenas, Ritas, Antonietas e Isabéis)

Era Maria que não era minha,
até a noite que a tomei pelo braço e então fui Lampião, e ela, Maria-bonita.
A mais bonita das Marias

Foi minha Maria a noite inteira,
Foi Maria-minha quando me escreveu na seguinte manhã,
Foi Maria-minha entre minhas pernas e fui por uma noite feliz entre as pernas que eram de minha Maria.

No entanto, outro dia raiou, outra dose tomei
Percebi que Maria não era mais minha.
Agora era Maria-dos-bares, Maria-das-dores, Maria-dos-olhos-mágicos (olhos que nunca mais me pousaram)

Destes olhos de Maria-de-ninguém
Emanavam um ácido líquido cor de nada
E um monte de histórias que jamais conheci.

Só conheci a história da Maria-de-uma-noite-só.
Que na verdade pode até ser uma Joana
Desconfio que jamais foi minha, essa Maria-Joana

Ao passar o café, no fim da tarde
Esperei aparecer na borra a boca de Maria-minha
Que não apareceu, e nunca mais escreveu

Quando chegou a noite
O telefone paralisado, na mesa da sala
Não tocou, e Maria não voltou

Quando, por fim, uma carta me chegou
Era de José, me dizendo "Por onde andas?"
Amassei e joguei fora.

Eu queria mesmo era Maria.





sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Farol

Aquela dor no peito era resultado de um milhão e meio de nós contorcidos e apertados, amarrando lembranças duras umas contra as outras.
No meio daqueles nós de marinheiro, existia um pouco de nós duas, cada vez mais distante uma da outra.
Um oceano inteirinho de saudades
E um navio que sai do porto
Causando um espetáculo de lenços azúis-desbotados
Acenando contra o vento
"Até logo, ou um até nunca mais"

Quando existo

Se existo é por erro de cálculo,
Quando não existo, sou o corretivo escolar grosseiro aplicado em um erro vulgar.
Se existo, sou uma máquina ligada à outras máquinas. (125 miligramas psicotrópicas)
E quando não existo, a paz se espalha nas porosas terras desse planeta.

Quando existo, sou o silêncio na hora da verdade
E o burbúrio no sagrado momento do requiém.
Mas se deixo de existir (se deixo de existir, Deus do céu, deixo de existir!)
Sou o exército que marcha entorpecido em algum tipo de fé em alguma espécie de força que nem se quer é minha.

Se existo, sou o infeliz inverno que mata velhos descalços
Mas se deixo de existir, o sol brilha atrás dos montes de uma terra prometida
Quando existo, eu sou o sopro que esfria o café
E quando deixo de existir, lírios se abrem num campo iluminado.

Sou o pau que espanca o cachorro sarnento no meio-fio
A arma do criminoso que mata um sujeito sem culpa
Sou o limbo na água potável.
E a seca no sertão
A bituca de cigarro que causa incêndio na última floresta da terra
O sangue que escorre nas coxas da menina estuprada por um filho da puta
Sou a puta que joga o filho na rua
 E a bomba que  acinzentou a rosa de Hiroshima.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Luca

Luca meteu um cigarro na boca e saiu em diáspora cortando os ventos daquela manhã feverina. O sol agredia os olhos e coloria o céu, ao mesmo tempo que ela sorria sem estar feliz, e ensaiava ranger das mordidas que nunca precisaram de fato existir. O esmalte dos dentes era mais desgastado que a mochila agoniante presa aos ombros, pesando nas omeoplatas.
Mordia os próprios dentes e movia as têmporas sem saber o porquê. "Exgomungada do diabo" disse a si mesma ao olhar seu reflexo no vidro de um carro preto.
Luca tem um par de seios moldados pelas mãos de um anjo, tem duas janelas no lugar dos olhos, onde se derrama pelo céu, uma intensa pincelada de anil, outrora, cinza como os trilhos de um velho trem, ou a fumaça que fica um tempo presa nos fios do cabelo fino, e então vai embora, vai pela janela, nada aqui se dá o luxo de usar a porta.
Luca pula a janela as vezes, depois do colégio, e conta as nuvens, exatamente nua no campo mais distante. Nua, despida dos dogmas e dos pudores, nua de sí mesma, e conta até esfriar.
Volta então, balança os alvos pés do telhado, sempre olhando pra cima, com os esmaltes descascados cor de ébano, apontados para baixo.
Luca, minha querida, se você for pular, não esqueça os seus sapatos de pano.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Alçada


Falar
com
as
paredes.


Sentir como se não pertencesse ao lugar onde nasceu.
A infinita satisfação do não-sentir-porra-nenhuma.
Colocar a própria vida como uma fileira gigantesca de peças de dominó,
E depois empurrar.
Só pra ver se ainda resta alguma emoção, algum gelo na barriga ou fervor no rosto, pra ver se ainda corre sangue nas veias desse corpo atérmico.



Discutir
com
o
espelho.

Conversar coisas ignóbeis maleando os proditórios lábios, que mentem e perturbam a própria existência sórdida, torpe.
Delinear nos olhos a síntese da coisa sem alma
Olhos que são pórtico do palácio cujo reinado nunca possuiu honra.
E abaixo destes, horriveis e isômeras manchas azuladas.


Olhar
Para
as
mãos.

As mãos frias,
Escrever uma sequência de palavras, onde não há sentimento, e depois empurrar
Pra dentro do papel impudico; que aceita o meu eu lascivo, o meu eu dos dias cáusticos.
Sorrir para a minha alçada
Que me permite criar, mesmo quando não há nada nem ninguém
Para amar.



quinta-feira, 25 de julho de 2013

Em resposta

Me lembro de ter segurado forte a mão da pessoa que estava do meu lado quando senti sua presença. Eu disse "É ela" e então tremi por dentro.
Por onde começar? Saberiamos exatamente por onde começar, antigamente.
 Dessa vez, não existiria gritos histéricos no meio da multidão, como faziamos quando nos encontrávamos. Dessa vez, não teríamos segredos pra dividir, e eu não ia pra sua casa no final da noite. Dessa vez, quem estava na minha frente era Elizete, e não a Liz. Senti meu sangue fugir do rosto. Você chegou de moto. Um flash me fez lembrar de quando eu eramos crianças, e eu te imaginava tirando o capacete e seus cabelos fortes e compridos, sempre muito mais bem cuidado que os meus, chicoteando-lhe as costas, e um sorriso surgiria na alvorada do teu rosto. Não foi assim. Meu olhar ficou sem direção, a festa foi horrível, me senti sozinha o tempo todo. Afinal.. Eu tinha uma namorada que nem percebia minha presença no lugar, um monte de gente desconhecida (isso me deixava nervosa) e tinha outra coisa ainda maior e mais protuberante. A sua presença.
 dance, menina morta, dance. ...Se lembra? foi a última carta que recebi de você. E não tinha remetente. Não tinha endereço, nem data, só tinha dor. E foi assim mesmo. Durante anos, dancei como louca, vivi como morta.
E você? Soube que está noiva, e então ri.
 Ri de tudo que já choramos por amores ignóbeis. Cheguei em casa atônita, e e foi impossivél não te imaginar vestida de noiva. Lembra-se, do buquê azul? Iríamos casar juntas. Com rosas azuis. Mas.. Eu não vou casar. Você estará maravilhosa, e te imagino de branco, perfeitamente amparada por todos os olhares graciosos de um lugar cheio de gente que te ama. Linda, num vestido combinado com espartilho de fitas de cetim. Linda. Como sempre.
 E te lembrei nas guerras de farinha de trigo, nos filmes de terror, nas duas taças de vinho, que era o nosso limite. Te lembrei na beira da piscina, como se o sol banhasse seu corpo e ao mesmo tempo iluminasse seu espírito, lembrei de nós, Liz. Da rua deserta na frente da sua casa, das tintas e lantejoulas, dos chinelinhos de dedo e da comida da sua mãe. Lembro da voz da sua mãe, e do olhar adocicado, quando lhe perguntei como era ser professora, no dia que ela havia voltado de uma reunião. E a sua voz é inesquecível, você é inesquecivél.

 Eu li um livro que dizia que todos os erros do passado, quando cometidos por amigos, irmãos, podem ser perdoados. Eu espero que sim. Espero que me perdoe por ter vendido a alma ao diabo. Por ter ficado louca. Por ter destruído tudo que tínhamos com as minhas próprias mãos. Eu espero, do fundo da alma, que eu encontre uma rosa azul pra levar no seu casamento.
 Mesmo que eu não seja convidada.

 Gostaria de compartilhar, algumas frases do livro que tanto me lembrou a nós:

 “éramos homaria e eu contra o mundo. e ouça o que lhe digo: no final o mundo sempre sai ganhando. as coisas são assim, puras e simples...”

 “não me lembrava que mês era, nem mesmo que ano. só sei que aquela lembrança vivia dentro de mim como um pedaço gostoso de passado, perfeitamente encapsulado; uma pincelada de cores naquela tela cinza e árida que nossas vidas tinha se tornado.” 

 "...descobri que não é verdade o que dizem a respeito do passado, essa história de que podemos enterrá-lo.Porque,de um jeito ou de outro, ele sempre consegue escapar."

 "Por você, eu faria isso mil vezes"

O caçador de pipas - Khaled Hosseini

Lembrei porquê te arranquei da minha vida.

Lembrei porquê te arranquei da minha vida. Eu arranquei todas aquelas páginas que escrevemos e o papel cortou minha pele. Engraçado, é que o papel parece tão frágil, mas dói pra caralho. -Pra caralho- Advérbio de intensidade que remete perfeitamente o que eu sinto, o que eu senti, e agora, o que eu tenho certeza que sentirei. Seu vocabulário sujo contrastando com a sua pele branquinha. Meu deus do céu, agora eu senti porquê te arranquei da minha vida. Você é tão perfeita que incomoda. Incomoda de verdade. Eu detesto ser incomodada. Meu mundo é um lugar fechado, e meu quarto trancado tem tudo que eu preciso. Tenho meus livros, meus cobertores, meus vinhos, meus remédios. E não tenho você. Isso é maravilhoso. Não ter você. Nunca pensei que diria isso, mas foi o que eu senti quando te arranquei da minha vida. Mas então basta um sonho louco (Transamos nas galaxias. Transamos nos anéis de saturno e enchemos o vácuo com nosso calor surreal.) ou a capa do disco do pink floyd pra te trazer de volta. Basta enrolar um fumo forte, e você volta. Basta o nada, basta o tudo, basta. Foi isso que tentei fazer. Dar um fim, pois eu sei que no mesmo final só você me basta, e talvez seja por isso que eu não dou certo com ninguém. Por isso e por todas as outras coisas, coisas que você, afinal, conhece bem, pois tem também. Queria fazer vida com você. Agora estou fazendo recortes das nossas histórias e tentando coloca-los em ordem. É, isso nunca aconteceria, nunca teriamos uma vida em ordem, olhe para nós. E é isso que me fascina. O convite pro café aí na sua vida ainda está de pé?

Isabela, Minha Nina.

Isa diz que tem a pele cor de neve e dois olhos negros como o breu. Isa diz que, embora nova, por amores já chorou que nem viúva. Mas acabou, esqueceu... Isa adora viajar, mas não se atreve numa cidade distante como a minha... Isa diz que fez meu mapa e no céu o meu destino rapta o seu. Isa diz que se quiser eu posso ver na tela a cidade, o bairro, a chaminé da casa dela. Posso imaginar por dentro a casa, a roupa que ela usa, as mechas, a tiara. Posso até adivinhar a cara que ela faz quando me escreve. Isa anseia por me conhecer em breve... me levar para a noite de Espirito Santo. Sempre que esta valsa toca... Fecho os olhos, bebo alguma vodca E vou...

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Deixa

Deixa a moça, que hoje ela vai mal. Deixa, que pra ela essa noite é inverno e abriram o portão do inferno. Deixa a menina doer, deixa a menina sangrar, deixa e finja que não vê. não veja, que é melhor assim. Deixa a moça chorar, amanhã sara, ela há de dançar sozinha e descalça no quarto, aquele samba que ela não sabe sambar. Deixa que logo passa, ela sorri muito bem e muito bonito. O verão vai começar logo que o primeiro sabiá cantar, quem sabe ela não aprende sambar? Há de beber da cachoeira direto da pedra, há de ficar firme como a rocha que a compõe, há de compor como compunha quando não doía. Ah! Se há....

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Dor.

Me retirei sentindo forte desconforto no estômago como se eu tivesse acabado de levar um chute. Recorri aos amigos. Finalmente, acho que fiz amigos, encontrei meu pedaço no mundo, depois de ser despedaçada por ele próprio. "dói muito" eu disse. Me atirei em abraços e algumas latas de cerveja. O incômodo agora era real, físico. Penso que bebi rápido demais, tudo era estranho, meus melhores amigos eram pessoas que até uma semana atrás, eram estranhos. Acendi um cigarro de palha que não fazia questão de se manter aceso, e o vento fazia questão de soprar por todos os lados. "você tem que fazer assim" - um moço bonito me disse, percebendo minha dificuldade, e então ele retirou delicadamente aquela porcaria fétida dos meus dedos e enrolou o fumo de forma diferente. "dói demais" eu disse a ele, que eu não fazia idéia de quem fosse. "eu sei, pequena. Mas tente não pensar nisso." Então o céu foi mudando de cor, gradativamente. O laranja do por do sol se misturou com o vermelho da poluição, atrás dos edifícios sinistros que, velhos, se faziam senhores do conturbado centro da cidade e eu me fiz sujeito do meu próprio caos e conformismo, naquele momento, um pedacinho de felicidade. Mas eu estou tentando não pensar nisso.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

fica?

A nossa história é, antes de tudo, inegavelmente triste. Encontros e desencontros sádicos, em corredores, em fila de mercados, mesas de bar, meio fio de rua. Nossa história consiste basicamente em um cronograma de devaneios e despedidas, aquele "me perdoa" que foi quitado ao longo dos outros "não quero mais te ver. E marcados com fortes beijos de ódio e amor, saudades e repulsa. Beijos roubados correndo o constante risco de nos encontrarmos dentro de nós sem querer, o temível risco de nos entregarmos a infinidade de nós. Não imagino a nossa historia sem partidas, sem aquele "agora é sério, vá embora de uma vez por todas" baby, baby... Somos tão previsíveis e mesmo assim não nos encaixamos em clichê nenhum. Não imagino nossos beijos de outra forma se não configurando nossas línguas feito duas navalhas banhadas a arsênico. Fica. Te peço pra ficar para o chá da tarde e fumar um cigarro dividido, quem sabe isso não se estende até a hora do café da manhã? E então você pode ir embora antes que eu desperte, você pode prender seu cabelo no alto sorrateiramente e lançar-se rua a fora arrastando a barra da calça no asfalto, mas volta. vê se volta a tempo do pra sempre, vamos assistir a nossa própria utopia.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

não te sou nada

Não serei nada que não quero ser. Já fui tanto sem saber, e disso tudo só ficou um caminho mal trilhado, uns versos tortos, uma letra que nunca, jamais, foi minha. E aquela moça? ela também não foi minha, nunca fui de ninguém! Fui apenas a pedra dos sapatos, as horas dos relógios, o sal do mar, o menino da rua, as grades da prisão, as páginas dos livros, a sangria dos navios e o sono dos olhos... Olhos teus, olhos meus, seus olhos são só seus e não me venha querer dá-los, não aceito! Não aceito coração de ninguém, pois já é difícil cuidar do meu próprio. Se tens um gato, ame-o! Se tens um pai, um cachorro, um dinheiro, se tens uma mulher, ame-a! Mas nunca ame demais, ame o suficiente, ame a ti, pois se não amas a própria existência.... Quem há de amar?? Quem há de amar?.... As mães amam de graça, eu não. Ora não me pegue, desencoste, não chegue assim tão perto que ninguém lhe permitiu, tire dos meus cabelos os seus dedos, tire seus olhos da minha boca e da tua boca tire meu nome! Não te sou nada, NADA!

sábado, 29 de junho de 2013

Apesar de você,

Amanhã há de ser outro dia... Inda pago pra ver o jardim florescer qual você não queria. Você vai se amargar vendo o dia raiar sem lhe pedir licença e eu vou morrer de rir que esse dia há de vir antes do que você pensa. Você vai ter que ver a manhã renascer e esbanjar poesia. Como vai se explicar, vendo o céu clarear de repente, impunemente? Como vai abafar nosso coro a cantar na sua frente?

quinta-feira, 27 de junho de 2013

o riso dela

"você bem que podia perdoar.... E só mais uma vez me aceitar. Prometo, agora vou fazer por onde, nunca mais perde-la" Fui uma estátua de barro que tomou vida, você quem me soprou no nariz. Uma criança aprendendo a andar, você quem segurou minha mao. Você me ajudou a dormir, e fui aprendendo a sonhar, sob a sua minuciosa supervisão, deixei de lado aquela droga. Me lembro do sonho ruim que tive e acordei gritando por ti. Chegamos muito perto, muito perto de tudo, mas existe uma linha perigosa entre o tudo e o nada, um abismo assustador, então me agarro em tuas mãos, coxas e cabelo. Agarro o travesseiro e não deixo que seu cheiro vá embora, luto, inutilmente com o silêncio gritante da madrugada fria sem você, fui marcada a ferro pela minha própria idiotice! E quem dera nunca ter saído do teu lado, eu não estaria caindo agora, não estaria chovendo tanto, e a chuva te deixa lisa, não consigo me segurar por muito tempo. Cai, adormeci e tive a certeza que aquela fora a noite mais longa da minha vida..... Mal pude acreditar que acordei com a tua risada. Mal pude acreditar que você ria de novo pra mim, e como ria! Daquele teu jeito bonito de abrir a boca e fazer mil caretas só suas. Impossível não rir também, impossível não querer te abraçar e nunca, nunca mais soltar! Vamos brincar de futuro, vamos nos imaginar a frente do sol, esperando ele nascer e ser recebido na varanda para o café junto com nossos assuntos loucos (só nós entenderemos) e vamos rir das outras galáxias, tocar violão, ler livros velhos, eu até deixo você rir das palavras que não sei falar. Finja que presta atenção na minha revolta contra a política (enquanto eu sei que você só presta atenção mesmo nas mudanças de cor do meu olho) e eu apago o cigarro, sossego e conto até três. Vamos discutir aquele ponto de vista besta falando uma mais alto que a outra, jogando sujo com a desconcentração. Recitar todos aqueles poemas bregas de fundo de gaveta, tomar chá ouvindo elton john (impossível ser mais brega) e vamos ser cafonas sem ninguém encher o saco, vamos enrolar as pernas embaixo do edredom e sorrir devagarinho, que é pra não assustar a felicidade, por sermos, juntas, maior que ela própria!

pesadelo

Estupido. Me sinto como um velho espantalho debaixo de um sol que fica aceso dia e noite, dilacerando os olhos, amarrado e exposto a própria tortura, a mais cruel que poderia existir. Morto, vazio, vermes passeando pelo meu cérebro. Uma multidão de insetos, asinhas pegajosas e escuras incomodando meu sono inerte, uma faca se acomodando no meu peito depois de tanto girar. Te perdi, pedra valiosa, te perdi. Matei uma criança com as minhas próprias mãos, escarrei meu escárnio pessoal, assinei minha sentença de morte, me prendi no inferno e engoli a chave. Não consigo chorar, pois hoje me tornei um homem que não merece nenhum sintoma de humanidade.

domingo, 23 de junho de 2013

pedido público: me perdoa pela ignorância

Querida Amanda, Nesse manicômio qual apelidei carinhosamente de "meu veneno", não é costume rabiscar nomes nas paredes brancas, mas meu bem, seu nome esta em todos os lugares. Estás em mim, de forma que também estou em ti, porém, a tempestade não para, e quando para, começa o vento. Desculpe, meu bem, por não conseguir entender a ti completamente. Desculpe por exigir tanta objeção, afinal, você é tão boa para mim, e eu sou tudo que não presta. Sou o limbo na água antes potável, sou a escória de tudo. E você, tão perfeita, não sei como insiste em estar do meu lado. Querida, eu peço desculpas pelos momentos que perdi a paciência, eu não sei se você sabe, mas eu mudei tanto na tentativa de conseguir te levar comigo pra longe da tempestade. Aprendi física. Acredita? Aprendi física pra tentar ir longe com você. és tão inteligente, garota, tão única, tantos "tão" que me envergonho muitas vezes. Eu quero te colocar no barco, você quer me colocar na linha. Eu penso em faculdade, apartamento no sétimo andar. Penso em um lugar ao sol para nós, e você pensa em beatles e carros antigos. Vejo graça, você é pura e toda graça... Você é encanto e força, mas eu queria tanto, tanto te colocar no barco, que a gente acaba se chateando e esvaziando o diálogo no meio da madrugada. Desculpa por esvaziar o diálogo, desculpa por ter tanto medo. É que você é o símbolo de que um futuro bom iria chegar pra mim. Mas sem você, não vai ser tão glorioso. Sem você, eu sobrevivo, mas não vai ser tão bonito.

sábado, 22 de junho de 2013

Mas fica. Fica meu amor, quem sabe um dia, por descuido ou poesia, você goste de ficar.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Partida

Meu bem querer deixou de me querer
Já não sei se quero que volte a querer
Se, pela má sorte foi-se o encanto, foi porque era engano
Mera miragem.
Seus braços, onde um dia me deleitei
hão de levantar a foice que degolará num só golpe
a esperança que cresceu em meu ser.
Se quiseres ir, vai-te, pois não volte!
Meias palavras não são capazes de preencher meu íntimo e saciar meus ímpetos.
Eu quis de fato me entregar, mas se você não puder carregar
Eu compreendo, meu bem.
Te desejo perto, mas só te tenho dentro.
A projeção da paixão que me mastiga sem sentir o gosto,
Toma uma grande parte racional do meu cortex esquerdo cerebral.
Sou, deveras, um ser persistente, que insiste em dobrar os joelhos contra o chão
Sabendo que estes me doerão as juntas, sou um ser que junta as mãos sem simetria
E rezo meu proprio requiem, sabendo no entando, que ouvir-me... ninguém!
Da mesma forma, insisto no amor iludido, dessa vez bem menos dolorido
Porém nunca menor, nem menos bonito.
Guardo-te junto com meus discos preferidos, meus livros já lidos e a minha letra na rubra e seca tinta da caneta.
E da mesma forma, guardo os sentimentos ruins, que é pra não ter de te contar
O quão asco é te ver escapar.

domingo, 2 de junho de 2013

Sumidade

Tinha um sorriso capaz de iluminar qualquer beco escuro onde minha alma se colocasse.
Vivera uma centena de vidas e agora estava dentro de um corpo esculpido na era parnasiana. Dos olhos, deixava emanar uma infinidade de segredos, que escorriam devagar até chegarem na moldura perfeita dos lábios e deixava entao, ser subentendida.
 Tropeçava nas estrelas e se atordoava nos anéis dos planetas distantes. Tudo distante. Vozes que ecoam do outro lado da linha do telefone... Virou um homizio sem querer, talvez por tanto querer. Querer que nao se acaba quando corta a ligaçao, e corta o fio da meada.  Desculpe, me perdi entre os versos sem rítimo, de forma frugal e perene, me encantei.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Agora tanto faz

O despertador tanto fez para me acordar, que agora tanto faz. Vou pra aula com o cabelo bagunçado, o jeans açoitado e uma mochila velha. Presto atençao na aula, a lembrança dos recentes fenecimentos da minha vida nao costumam me perturbar enquanto trinta demonios gritam no mesmo ambiente que eu. O que me irrita é o alarido constante, me faz lembrar teu silencio contínuo. Seu fleumático jeito de lidar com o gelo. Sua pele parece impermeável, e eu sinto tanto a sua falta.
Estou voltando pro inferno, agora tanto faz.

domingo, 19 de maio de 2013

Peso do mundo

Acordou de mal jeito naquele sábado.
Estomago embrulhado por conta do sentimento de nao conseguir concluir nada direito. Havia bebido demais na noite anterior e acordado diversas vezes desidratada, engolindo a golpes copos de água. Sonhara com um amor mal resolvido, mal terminado, dolorido até os dentes e ainda tremia. Era difícil engolir a saliva com gosto de medo de adormecer e sonhar novamente com aqueles olhos castanhos e agressivos, anfetaminados, doentes.
.....

Acordou de mal jeito naquele sábado. Pudera! na sexta feira já havia sonhado com calouros e isso também a fazia tremer. Ia mal em matemática e as provas já iam começar. Teve medo de compartilhar seu terror noturno com alguém, estava assustada. A verdade é que vivia assustada desde que voltara a sonhar. Tinha se esquecido da sensaçao abstrata e bizarra que se é submetida quando se resolve parar de tomar o sedativo inibidores de sonhos, os que tomou por cinco anos. Estes lhe serviam também como fuga da realidade, quando tomados em doses brutas acompanhadas de vinho tinto.
Já se faziam trinta e duas horas desde o último comprimido do novo tratamento e ela nao queria ter de toma-lo para afastar essas sombras de tragédia.
 Olhou-se no espelho. Os olhos úmidos, a boca seca, pele sem cor. Sem motivos, achou-se até bonita.
 Procurou entao outra fuga, qualquer coisa que distraisse sem dilacerar e sem deixar um bocejo químico. Porém tudo estava limpo, limpo até demais, Provavelmente tinha limpado o quarto muito mais vezes do que uma pessoa normal limparia. Havia garrafas de vinho, mas ela precisava parar de beber, precisava mesmo.
 Sentia também um medo incontrolável de sair e ser chata, séria, detestável, ironica e trancada no proprio mundo da desvontade de socializar. A bebida faria isso por ela, faria ela sorrir sem ter vontade.
 Decidiu derreter chocolate e voltar para a cama, onde tentaria dormir um pouco, já que a embriaguez havia passado e sobrava apenas a ressaca moral.
 Enquanto movimentava a colher na panela, percebeu que suas unhas estavam compridas e exatamente vermelhas! Sentiu vergonha, Sentiu-se promíscua e ridícula.
 O cheiro do doce logo a fez esquecer do detalhe gritante e entao lembrou-se de Léo. O pequeno, que vivia com o pai dela, tinha imensos olhos famintos de carencia. Poucos tres anos e já se via muito naqueles olhos. O pai era um bruto, um tosco, de tristes olhos identicos aos dela. Recentemente, este abriu uma ferida no peito da menina que ninguém ousaria dizer que ela vai cicatrizar. E nao vai.
 Balançou a cabeça, tentou esquecer a cara do homem. Nao conseguiu. Imaginou o pai morto, e pensou se seria capaz de chorar.

Seria. Claro que seria. Choraria de raiva e afliçao, a mesma coisa que ela sente toda vez que o lembra vivo.
Depois sentiu culpa, tudo isso deve ser errado, ninguém pode imaginar o proprio pai morto. Que coisa mais kafkaniana!

 Lembrou-se do padrasto que partira sem se despedir, largando a mae nas mínguas de todo o dinheiro que lhe faltava, do velho só sobrou a cadeira de balanço com a vista sinistra que ela gostava de ver. O dia amanhecendo atras do pé de cajú morto, da lembrança cruel da jabuticabeira, do pé de limao que vivia lhe espetando os dedos, e este ficava encostado no muro da casinha dos fundos, onde fora gravado a ferro: Marcos, Marcela, Murilo. Em breve a casa seria vendida e a menina nao teria outra lembrança do falecido irmao menor. O mais velho agora era um homem, e já nao conversavam. Nunca conversaram. Ela só sabia falar de livro e alcool, nada do que ele gostava. Pensou consigo "como é engraçado nao conversar com o homem que mais amo na vida"
 Sentiu-se só. Sentiu-se burra. Sentiu-se vazia e por fim, quase morta de tristeza.

Lost And Delirious

“Make me a willow cabin at your gate,
And call upon my soul within the house;
Write loyal cantons of contemned love,
And sing them loud even in the dead of night;
Halloo your name to the reverberate hills,
And make the babbling gossip of the air
Cry out 'Olivia!' O, you should not rest
Between the elements of air and earth,
But you should pity me.”
 ....
Victoria: "I mean I love Paulie, you know that I do. She's my best friend in the world and probably the only person that I will ever love like, like in the way that...Cleopatra" "And to hurt her, its like I'm choking, like I'm not in the breathing world."

 Pauline: "Liar! Liar, Liar, Liar! You've all got your heads up your assholes because love is. It just is and nothing you can say can make it go away because it is the point of why we are here, it is the highest point and once you are up there, looking down on everyone else, you're there forever. Because if you move, right, you fall. You fall."


 

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Assassinato

....Doze ou quatorze passinhos apressados e vira-se com exata decisao para a esquerda. Isso tudo dura um ou dois segundos, ou até onde os olhos conseguem agarrar, mas nunca é muito, e quando se pisca, finge-se que se esqueceu o percurso, e que este, nao lhe tinha importancia qualquer. Adeus, adeus.



Cem dias. Foram cem dias até me acostumar, ou melhor, conseuir digerir essa refeiçao pesada demais pra alma. Cem dias pra compreender o erro, e depois rir triste. É engraçado o riso triste. Um sorriso cansado e inerte, tempo demais sem dormir deixa a gente meio louca, meus amigos. Tempo demais tentando resolver uma questao que nao é matemática e nem física. Química, muita dela. Nos remédios, nos frascos vazios, nas misturas que fiz na tentativa de misturar sua lembrança com o resto do lixo reciclavel. Porém estava tudo bem na minha frente, e nao pude ver. Vergonha de mim mesma define.
Percebi que me apaixonei por uma pessoa que nao existe, que nem nunca existiu. Apenas uma vez, em uma escada fria, tao fria quanto essa pessoa. E me apaixonei de tal forma, que caí tola, tonta, fraca, amarga.
De tao fria que minha amada foi, precisei ser quente por nós duas, sem perceber que ela nunca tinha desejado ser aquecida, e com o calor, sufoquei-a, joguei meu amor escadaria a baixo.
De tao quieta, nao pude perceber a queda, e eu, tao, mas tao tola, demorei cem dias para conseguir entender.

domingo, 12 de maio de 2013

Disseram que pela madrugada avistaram meu pior inimigo. E se parecia comigo.
Ela poderia falar com os anjos se quisesse. Ela poderia qualquer coisa.
Uma infinidade de confusoes, me liberte, ou me agarre firme. Tenho te amado por mil vidas, deixe-me viver a última, eu imploro.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Felicitá

Entra um vento gelado pela janela, mas dentro de mim está quente. Felicidade rara de encontrar, principalmente em um inverno desses, onde tudo está fora do lugar. Já escrevi um milhao de poemas, mas nenhum sobre este estado curioso que é a felicidade.
Por que deixei de falar de como é boa a madrugada? Como é que nunca ensinei a mim mesma, que o sol é bonito, sim. Mesmo quando eu via o mar, estava viciada em tristeza e nao pude sentir.
Sei que tempos muito dificeis ainda estao por vir, mas olha, de todas as mentiras contadas para mim desde que nasci, uma vez me contaram uma verdade que nao acreditei. O sol volta toda manha, e depois as coisas vao para onde devem ir. Ainda tem tempo para construir um alguém que eu vá me orgulhar de ser no futuro. Ainda posso me orgulhar de mim mesma, afinal, eu sou uma sobrevivente, e ainda sou tao jovem.
Viciada em tristeza, que coisa mais boba.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Desespero

Encaro cinema sozina, viagem sem acompanante, vodka pura, whisky sem gelo, tequila sem limao mas um cigarro atras do outro nao. Isso é desespero.
Aceito uma dose de desilusao, um dedo de desesperança, café sem açucar, livro sem muita graça, noticiario das sete.
Encaro trem lotado, sorriso barato, tres noites sem dormir, samba, bossa nova, blues, filme de velho oeste, pao amanhecido, mas um cigarro atras do outro é desespero.
Encaro o despertador cinco e meia de uma manha que só amanhece as sete, e nao floresce nunca.
Lido com a fotofobia  (o céu de tao azul hoje chega a ser patético.) Engulo o orgulho, mas cuspo na rua, um cigarro atras do outro, isso nunca, é desespero.
Aceito a arte insana de Dalí, e os elefantes sinistros que marcham em manada nos meus sonos quando durmo, se é que durmo. Encaro injeçao na veia, tres tarja preta por dia, Aceito a gravidade, ignoro o cansaço físico, burlo o mental. Devoto botanica, decoro a tabela periódica, permito-me a exaustao da física quantica.  Durmo com os óculos na cara, acordo forçada, choro a seco, me arrependo amargamente, aceito tudo que pode dar errado, mas um cigarro atras do outro? Isso é loucura.
Deleito em cianeto, mas veneno para ratos é tao fora de moda.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

A comédia da morte, cinco anos depois.

Se fazia cinco anos desde a última veneta.
Começo por onde eu quiser, acabou-se tanta coisa, inclusive a coerencia. Tanta coisa foi empalidecendo e indo embora.
Sabe, eu achava graça na forma que voce demorava pra comer.  Achava graça, meu bem, na forma que as sardas do seu rosto se evidenciavam com a claridade eufemista das nove e meia da manha.
Achava graça em tanta coisa, hoje nao acho mais, nem mesmo consigo me encontrar na minha propria cama.
"fico te imaginando, as tres da manha de toda manha, vestida tres vezes mais do que o necessario, rindo de mentira, com o cabelo preso formando uma pequena cascata atras da sua cabeça." -Nao imagino mais, mas ainda me lembro de um dia ter imaginado. Também lembro de todas as coisas que eu prometi pra mim mesma, sofrimento, nunca mais, nao... nao faz meu tipo. Eu estava decidida a nao deixar mais dor alguma entrar, e sem que eu pudesse perceber  voce foi parar embaixo da minha pele.
Meus versos perderam a cor
Perdi peso e cabelo
As chaves e o celular.
Me perdi de voce, e te perco de vista sempre que posso.
O mais importante é que perdi toda e qualquer esperança, e isso me impede de fazer tudo de novo.

Te odeio de mentira, e te amo de hiperbole, de mentira também, Tudo é mentira, voce é feita de confusoes e mentiras. Mas quem liga? Nao liga. Telefones silenciando a minha mente barulhenta. Eu apaguei seu número.
... Me lembro de achar graça na forma com que voce demorava para comer.
Agora acho graça nessa minha tortuosa demora para morrer, enfim.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Carolina.

Carolina, nos seus olhos fundos guarda tanta dor, a dor de todo esse mundo...
Eu já lhe expliquei, que não vai dar, seu pranto não vai nada ajudar.
Eu já convidei para dançar, é hora, já sei, de aproveitar,
Lá fora, amor, uma rosa nasceu, todo mundo sambou, uma estrela caiu
Eu bem que mostrei sorrindo, pela janela, ah que lindo
Mas Carolina não viu...
Carolina, nos seus olhos tristes, guarda tanto amor, o amor que já não existe,
Eu bem que avisei, vai acabar, de tudo lhe dei para aceitar
Mil versos cantei pra lhe agradar, agora não sei como explicar
Lá fora, amor, uma rosa morreu, uma festa acabou, nosso barco partiu
Eu bem que mostrei a ela, o tempo passou na janela e só Carolina não viu.


-Chico Buarque.

domingo, 14 de abril de 2013

pegar o trem

Desaprendi a ver o futuro. Tirei da cabeça aquele negócio abstrato de "janelas azuis, geladeira vermelha". Não consigo mais adivinhar nada nem ninguém, não consigo mais nem pensar além, não tenho coragem pra deduzir e nem ânimo pra torcer, a fé se foi, como vai embora a fumaça desse cigarro lazarento que não consigo terminar de fumar e também não consigo jogar fora.
Antes eu sabia tantas coisas sobre o futuro. Sabia o que eu queria saber, sabia que nota ia tirar na prova, sabia o que vestir nome dos meus filhos, a cor da camisa da pessoa que se deitaria do meu lado pra dormir, Hoje, tudo que eu sei sobre o futuro é que o relógio vai incomodar de manhã, e talvez nem me acordar, apenas perturbar, apenas lembrar que a vida continua (infelizmente, continua!) e segue cor de nada, tropeça nas estrelas que não brilham, cospe nos livros que não li, nem vou ler. O relógio toca pra me lembrar que a vida vai continuar sem tempeiro nenhum, carne crua e sangrenta, vida com aspecto de carne viva, igualzinha a pele dos meus braços, na última crise, pirei de forma grossa, violentei a mim mesma até sangrar tudo que deveria, pra me certificar de que ainda vivia. E depois, briguei com dois, descontei minha raiva em um filho da puta qualquer.
Eu nunca vou achar uma geladeira vermelha pra comprar. Minha casa não vai ser branca e minhas janelas não vão ser azuis. Penso mais é que vou acabar rodeada de móveis de ferro frio, geladeira de inox, tela na janela que é pra não me atirar do sétimo andar do prédio que fica em um condomínio vil, que é pra não arrebentar minha cabeça no chão, sentir esse cérebro morrer.... Deus queira que isso não aconteça HAHAHAHAHAH Deus não quer nada, deus não existe, e pular do sétimo andar não me parece tão assustador.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Origens

Eu a amava e não era o amor que os homens sentem pelas mulheres, nem o qual as mulheres sentem por outras mulheres, nada do tipo. Eu a amava da forma única, confusa e totalmente pura que as crianças tem de amar. Não me lembro de seu nome, mas me lembro da cor dele: era dourado. Dourado como a cor dos seus cabelos, que ao contrário das outras garotas que ali cavalgam, não chicoteava-lhe as costas de forma bruta, o cabelo a beijava dorsalmente, até o lombo. O vento lambia os micro-pelos de seus braços, dourados, também. O seio era firme, dançava de acordo com os trotes, mas sempre firmes.
Abaixo dos olhos azuis, o rosto era queimado, rosado. Apesar do sol forte e da proteção quase inexistente (apenas pelo chapeu de couro esverdeado) sua pele não era judiada pelo tempo, era jovem, era doce, eu ainda não sabia adivinhar a idade das pessoas, mas sabia que ela era gente grande, gente que eu queria ser, e pedia inflada de esperança e quente pela timidez, eu pedia estentendo os braços::: Me leva contigo!
Logo, ela estava sorrindo, descendo do cavalo sem nenhuma dificuldade, e no cavalo me acomodava dizendo: segura forte, menina.
E quando galopávamos, eu me sentia a pessoa mais importante do mundo.
Meu cabelo era quase da cor do dela, e os dois se misturavam quando o por do sol chegava, e quando voltávamos para a casinha da fazenda, cobertas de poeira, ela desabotoava as botinhas de couro surrado, se despedia de mim com um sorriso.
Todos se ajeitavam para dormir logo quando a noite caía, exeto os homens, que bebiam uma água que me ardia os olhos, e jogavam cartas, e eu logo escapava pela porta de madeira azul da cozinha e ia me acomodar no colo de meu pai, que adorava exibir a beleza infantil da filha miúda.
Eu, atenta, olhava as cartas sendo violentamente jogadas na mesa redonda um pouco manca. Com um dedo na boca, me lembro de observar as rugas que se formavam no rosto de meu pai, toda vez que sorria, e como sorria! De repente eu queria ser homem também. Queria fazer xixi em pé também. Queria saber jogar truco e falar de futebol. Oh, meu pai ficava tão feliz no mato. Bicho-do-mato, bicho desletrado, bicho açoitado pela vida e um pouco chucro, um pouco doce, um pouco Homem, bastante bicho.
Depois, quando o meu pai me enxotava de lá, provavelmente quando os assuntos de homem-bicho começavam a surgir, eu ia me enrolar nos caracóis de minha mãe, que dormia um sono mal dormido, mãezinha nunca fora bicho do mato, não. Detestava ter de tomar leite recém retirado da vaca, e eu, me sentia na obrigação de imita-la, torcia o nariz e não tomava o leite. Tomava então o café coado no pano, torcendo a lingua, mas fingindo gostar. Depois, ia me sentar junto aos livros da mamãe, e sozinha, ia aprendendo a juntar as palavras, e fazia isso até a garota dos cavalos acordar. Quando ela acordava, eu queria ser mulher de novo!
O tempo passou, acabei seguindo muito minha mãe, que nem sempre me sorriu como meu pai sorria. Mas por obrigação, tomei café, li mais de cem livros, escrevi diários, não cavalguei mais. Aprendi a odiar futebol, e acabei odiando o pobre bicho que é meu pai.
Mas ora ou outra ainda acabo amando uma loira aqui, e tomando uma pinga por ali.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

seca

Não me falta inspiraçã, me falta conexão.
Não me falta saúde, me falta convicção.
Não me faltam cores, me faltam pincéis.
Não me falta o sol, me falta a luz.
Não me falta nada, o problema é tudo.
Não me falta amor...... Na verdade, falta sim.
Mas não me faz falta.

Fulana de tal

Beijo no rosto.
Beijo, daqueles de encostar a bochecha marginalmente.
Beijo ráipido e defensivois,, na obrigação imposta pelos malditos grupinhos que se colocam em forma de circunferência e tem que ser dado no rosto de cada membro da roda ridícula e fútil que cheira a hormônio adolescente.
Beijo no rosto, como velhas amigas, as que nunca fomos, portanto, cumprimento como qualquer conhecida, como se você tivesse mudado seu nome drasticamente para "fulana de tal". Um tal qualquer, como se seus sobrenomes fossem incógnitas, como se eu nunca, jamais, tivesse me entretido antes com a simetria dos seus últimos nomes.
Fulana-de-tal. Menos minha. Fulana de qualquer um, fulana de ninguém, nem de si mesma.
Beijo no rosto, como quem desconhece o gosto dos lábios e distância imediata, desnorteamento dos olhos, como se nossos corpos nunca estivessem tão proximos a ponto de reconhecer a respiração alheia e os teus batimentos descompassados cardiácos. Como se nossos olhos nunca estivessem sido colocados numa só reta, formando uma tangente exata.
Pisei na sua garganta sem querer, te tirei a respiração acidentalmente, mas eu já perdi perdão, já me castiguei por obrigação própria, mas olha só: Meu tênis nem deixou marca alguma, meu beijo então, aposto que nem lembra o gosto. Você nem ao menos sentiu, beijava por beijar, como fazemos em baladas medíocres, com mulheres medíocres.
Perdoa-me, então, por não ter pisado com mais força. Perdoa-me, porque minha brasa não esteve o suficientemente aquecida para te marcar.
Te mato em meus sonhos todas as noites, te estrangulo com as minhas próprias mãos, mas apesar de tudo, demônio, te amo.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Faça-me sorrir

Faça-me sorrir.
Não pergunte o por quê, apenas arranque um sorriso de mim.
Ando por aí olhando pro céu, muito mais do que eu olhava antes. É um azul tão infinito.
Eu preciso de novos bares, novas bandas, novos jeans, preciso das velhas amizades, mas também preciso conhecer mais gente. Gente, não importa que tipo de gente. Gente diferente da gente.
Preciso voltar a tomar chá de laranja de manhã, chá de hortelã a noite.
Talvez eu precise voltar para aquele pontilhão sinistro, naquele bairro sinistro, e conversar sobre bandas com aquela menina bonita. Ou não.
Acho que preciso viajar, pegar um bronzeado, fazer uma tatuagem nova, preciso de um porre.
Preciso estudar, pegar firme as apostilas e devora-las.
Preciso de uma cesta de chocolate com algum bilhetinho anônimo, bonito.
Preciso que parem de gritar na cozinha, preciso que calem suas bocas, que cuidem menos da minha vida.
Eu preciso de ajuda, é verdade.
Agora, eu realmente, preciso muito mais de vocês do que jamais precisei.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Torre de Babel

Babel, do hebraíco, significa confusão.
Mais ou menos tudo isso que anda acontecendo comigo.
Foi tentando construir um lugar bem alto e calmo que você me desequilibrou e agora eu estou aqui, com os joelhos sangrando de novo. Mas não dói, tá tudo bem.
Agora eu consigo ver, chegamos perto demais do céu para conseguir toca-lo.
Alguns devaneios por algumas nuvens fizeram-me sentir no paraíso: seu rosto, seus cabelos, a luz da manhã nos seus olhos castanhos.
O que eu não sabia, era que nosso peso faria a nuvem ceder, e nessa tarde, tudo ficou escuro, a nuvem se desmanchou e choveu, choveu muito, por uma tarde, uma noite e a madrugada foi recebida com uma intensa tempestade cheia de catástrofes emocionais, deixando minha alma vagar num exato cenário pós apocalíptico, mas tudo bem, ninguém percebeu, meu quarto ainda está arrumadinho esperando aquele filme que não vimos juntas. Meu caderno está cheio de matéria e no meu dedo indicador alguns calos, por escrever demais, escrever coisas que não vou publicar, coisas que você não merece ler. Você não merece me ler. Você não tinha a permissão de me levar ao topo da torre e depois me atirar de lá.
Sempre te dei razão pra tudo, mas na noite em que choveu demais, todo mundo se foi. Sobrou, portanto, eu mesma por mim. E agora penso em mim, pensei diversas vezes onde foi que eu havia errado, mas eu não errei... Não dessa vez.. Eu havia prometido, nunca te perder.
Percebo que não era equivocado da minha parte a porra da minha "idéia fixa" de que quando as coisas vão bem pra mim, algo vai dar errado.
E deu muito, muito errado, porque eu não costumo chorar. E olha só, menina, eu construí essa torre usando como liga as minhas próprias lágrimas, desde agosto do ano passado, e ainda existe a hipótese de que fui rápida demais.
Não, não. As coisas estão erradas.
A vida destrói todo e qualquer ser que tenta atingir o céu.
Era bom demais pra ser a vida.
Agora, não falo mais a tua lingua.
Maldita seja a torre de Babel!

domingo, 3 de março de 2013

Ilusão

Nem nicotina, nem alcool, nem droga alguma.
Somos viciados em ilusões
Um bando de dementes com olhos aflitos procurando comprar ilusão em qualquer esquina, qualquer ruína, e pagamos com noites mal dormidas, com dor ao redor dos olhos por não conseguir chorar.
Somos viciados em ilusões, somos como qualquer sobre-mesa morna e agridoce que ficou na mesa de jantar e ninguém quis tocar, ver é mais agradável que consumir, quando se tem na mão as coisas mudam.
Somos escravos dos nossos próprios rascunhos de planos que não tem alicerce algum, degradados ao longo do tempo pelo vento e pela areia, construindo dunas e dunas pelas nossas costas sem conseguirmos espalhar ou escalar a própria montanha de ilusão.
A gente cria um mundo perfeito antes de dormir, todas as noites. Futuro. Um emprego legal, uma casinha bonita, uns filhos, talvez adotados, alguma pessoa que acorde do seu lado com o cabelo todo bagunçado e te sorri um sorriso sonolento e feliz - completamente feliz.
Planos que surgem nas nascentes dos finitos rios cristalinos e morrem no esgoto do desgosto, toda noite.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Não fez.

Tomei uma taça de vinho achando que me faria bem. Não fez.
Olha, eu estou cansada de ser superestimada. Todo mundo acha que eu tenho sempre a resposta para todas as coisas do mundo. Eu nunca quis ser prodígio nenhum, nem mereço prestígio algum, Tomei uma taça de vinho achando que me faria bem, e não fez.
Me enjoou o estômago, parou na garganta com gosto de vinagre, isso aqui não era vinho caro? Lá vou saber eu.... Eu não sou dessas que fica cheirando rolha não, nem movimentando o vinho na taça circuladamente, eu passei tempo demais cheirando cocaína. Achando que me faria bem, e NÃO fez.
Passei tempo demais sonhando com você todas as noites, pensando que você chegaria aqui e me faria bem, não fez.
Pensei que esse texto faria algum sentido, não fez.
O que eu estava fazendo mesmo?
Ah, o texto. Não fiz.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Gabriela


"Hoje os ventos do destino começaram a soprar... Nossos tempos de menino, foi ficando para trás."
E o que vem depois de nós?
Uma história mal escrita por bocas de pessoas que não contaram os grãos de areia que caíram da nossa ampulheta, mas tudo bem, acho que também contariam as gerações futuras o grande impacto pessoal que causamos em grande escala. 
Somos mais do que duas pessoas mas somos menos que o mundo inteiro, porque o mundo é um lugar sujo e feio, mas as vezes, nos fins de semana, tiramos um tempo pra brincar de deus e contruir o nosso mundo, sempre foi assim, né?
Antes, nosso mundo eram todas as tardes, tomando cappucino na calçada depois da escola, e oras, que tipo de criança toma cappucino na calçada nos fins de tarde discutindo política ou mulheres?
Sério, acho que somos únicas.
Únicas por nós mesmas. Te lembro nas intimações mandadas para que as outras amiguinhas ficassem longe de mim. (e talvez toda essa minha isolação da sociedade seja culpa sua, vaca.) E lembro as intimidades trocadas, e as coisas mais constrangedoras detalhadas, e vermelha ficavamos rindo uma da desgraça da outra, enquanto o céu da praça do são dimas ia alaranjando-se, avermelhando-se conosco, e as vezes chovia, chuva forte, chuva de lavar as dores, e que bom que ainda não tinhamos dores! Corriamos pela ponte e na frente dos carros, ouvia-se buzinas e insultos, e o salão de beleza cor-de-rosa que ficava no meio do caminho pra casa era sempre o alvo das nossas alcunhas, pulavamos nas poças d'agua sem se importar em estragar o tênis ou a calça cara que você pagou dando a bunda pra uma empresa que faz papel que eu enrolo fumo. 
E quantas pessoas já passaram por nós, e decifravamos apenas pelo jeito de andar ou de mover as mãos. Deciframos tanta gente, tantas provas de português, e hoje, fica um pouquinho difícil de nos decifrar, e quando a chuva cai, nunca mais saí pra me molhar. Mas ainda decifro o enigma maior do mundo, de onde viemos e pra onde vamos? e a minha resposta é: Não importa. Eu tenho você.
E vou ter pra sempre. A cada porre que você tenha segurado meu cabelo ou me procurado em pleno coma alcoolico no meio de um matagal, ou toda vez que eu tiver que te arrastar pelas pernas de um ralo sujo e cheio de vómito, nossa, cheguei num ponto tão poético da história né?
Ah! Os bares. As mesas de bilhar. As máquinas de música. A cerveja merecida, a saudade que parecia dividir-nos, que bom que não nos afastamos, como a lei da vida sempre prometeu, que bom que as vezes ainda deito contigo no gramado de qualquer praça olhando pra lua e falando sobre coisas melancólicas ou talvez não.
Nossa, como o tempo passa rápido. E o futuro me assusta um pouco, mas depois de tudo, eu sei que ninguém de nós duas vai embora. Esse é o combinado, esse é o trato. E "eu não vim até aqui pra desistir agora"
Desistimos de ser rockstar e desistimos de entender as mulheres, desistimos de usar salto alto e desistimos de vícios mortais. Mas não vamos desistir de nós, por mais que a cada ano que se passe, ficamos um pouco mais velha e chatas. 
Só que um dia prometemos que iamos acabar num apartamento no sétimo andar, com um pequeno jardim plantando morango e cactos, com alguns gatos fedorentos, fumando mais do que nosso pulmão poderia aguentar, pedindo pizza todas as sextas-feiras enquanto assistiriamos documentários sobre os psicopatas e sobre as guerras que vemos hoje, mas amanhã será lenda, e com a mão engordurada eu ainda vou ter humor pra esfrega-la na sua cara, daquele mesmo jeito que você sempre odiou, e prometemos isso, não prometemos? Envelhecer balançando numa cadeira de madeira bebendo whisky e falando de mulher.
E sabe de uma coisa? Depois de toda essa coisa morna e de todos esses anos te devendo uma porra te texto, eu confesso: você não é muito mulher, mas é, com certeza, a mulher da minha vida.

E isso não é uma declaração de amor, tire sua mão da minha bunda, escrota.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Eu me recuso


Me recuso a ser como todas essas pessoas que acham que pra viver, precisam de outra pessoa.
Me recuso a acreditar nesse conto de fadas, me recuso a acreditar em qualquer conto de fadas, esses contos são tão demoníacos e ninguém vê, pelo brilho ofuscante e irritante das capas dos livros.
Me recuso a acreditar no paraíso celeste, me recuso a seguir  a moda, me recuso a tratar a mim mesma tão mal a ponto de jogar a carcaça do meu corpo num sofá todos os domingos alimentando meu cérebro com lavagem pra porco, como é que dizem? l a v a g e m c e r e b r a l. Todo mundo está sujeito.
Me recuso a pular carnaval, a ouvir a rádio em horário de pico, me recuso a ouvir gente que quer tanto falar mas não sabe dialogar, me recuso a fazer parte de grupos decodificadores de seres humanos, me recuso a ser filha do sistema cartesiano, me recuso a dizer que vai ficar tudo bem quando sabemos que tem coisas que não vão ficar bem. Não vão nem ficar.
Me recuso a andar de mãos dadas, me recuso  a pertencer à alguém, eu protesto contra roupas brilhantes que distraem a atenção do dos brilho maior que são os olhos, e tem gente que tanto tem e nada tem pra mostrar pela janela da alma.
Me recuso a dividir minha cama e meu sexo com gente vazia, me recuso a tatuar borboletinhas no tornozelo, me recuso a usar salto alto e um bando de pulseiras barulhentas. Me recuso, por fim, a usar essa camisa de força justa desse jeito.
Alguém pode afrouxa-la pra mim?

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

"Se livrar de tudo que te faz mal"

A semana sempre corre bem, sempre tudo dentro da rotina. Quase sempre. As vezes, durante as quarta-feiras, eu interrompia minha vida íntegra pra andar alguns kilometros e  encontra-la assim, daquele seu jeitinho, sua voz serena, sua metralhadora de palavras. Era a minha namorada, e ninguém sabia, só mesmo nós. Te encontrava, deitavamos e a apertava bem forte e dizia que ia tudo melhorar, que ia tudo passar. As vezes te segurava os cabelos enquanto você metia a cara dentro de um balde e vomitava o puro alcool ingerido na tentativa de curar suas feridas internas. Eu não apoiava, nem criticava, apenas segurava seu cabelo e depois preparava água com áçucar, tirava seus sapatinhos de boneca, te preparava um banho quente, levava bem seu rosto e te borrifava algum perfume vagabundo. 
Eu achava mesmo fascinante, era contigo que eu acreditava que a vida era interessante. E eu mantia a calma e dizia pra você se focar, pra voce se esforçar, pra se livrar de tudo que te fazia mal. Tentei te levar pra jantar, dançar, ouvir música, passear, ir ao cinema, mas nada, nadinha disso adiantou, nosso romance era de novela, aqueles proíbidos, aqueles negativos, aqueles sofridos. Tudo isso passava quando uma metralhadora de letras atacava meu celular ou minha caixa de e-mails, todos confusos, todos engraçados, todos bonitos. Bonito. Ela era tão Bonita.
Mas eu sempre pensava que não ia adiantar, que ela nunca ia me ouvir, que hora ou outra sua cabeça oca ia estar dentro de um balde laranja de novo, e eu não negava nada, só queria deixar fluir, pensei que curaríamos uma a outra, mas...
Um dia ela se cuidou, parou de bobagem, de drama. Parou com tudo aquilo, e se livrou de tudo que lhe fazia mal. Fiquei tão feliz com a última mensagem, tão feliz! 
Só depois me toquei que não podia responde-la. 
Você estava melhor. Havia se livrado da vodka, do balde e de mim.

Se você visse como fiquei ainda mais parecida com você

Cada dia que se passa, mais pareço com você, ando tão às minguas, qualquer música me lembra seus passos, e ando, ando e ando por aí e cada cantinho desse bairro tem um pouquinho seu, e ao andar, percebo que meu andar anda se tornando o seu.
O modo de olhar, (a mesma cor do olho!)
O modo de falar (a mesma dificuldade em se expressar!)
O modo de me distrair ( e entreabrir de leve os lábios)
E o modo como sento no degrau da sala, com o cigarro fedorento entre os dedos, tudo isso, toda essa herança genética você deixou em mim.
Você só não te deixou em mim.
Ô, Pai, se você visse como sua menina cresceu, Se você visse a porção de troféizinhos que acumulei com aquelas redações "bobas", que você sempre tava cansado demais para ler. Ô, Paizinho, se você visse como aprendi fazer café do jeito que você gostava, se você tivesse aqui pra ver que eu também aprendi a gostar de café forte e sem açucar. Se você estivesse, quem sabe a gente poderia tomar um café juntos no quintal, olhando o cajueiro (ele voltou a dar cajú, será que você sabe?) Se você visse o quanto estou indo bem na escola, o quanto meu cabelo cresceu, e como eu aprendi a não deixar mais as luzes acesas pra economizar energia, se você visse, se você visse como aprendi a deixar tudo tão organizado, meu quarto tá tão bonito hoje, pai.
Mas você não viu.
Saudades.
ass: Tata.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Moça

Olha só como ela se esconde na própria sombra.
Olha só como a pele é frágil, desacostumada com o contato do meio-fio sujo onde estamos sentadas, largadas, bêbadas.
"Como é feio quando uma moça bebe demais" sempre ouvi por aí.
Mas você continuava linda.
Sempre te conhei e nunca tinha te visto em lugar nenhum, mas cá estamos, moça, me passa o rum.
Que coisa mais maluca essa mania de trocar as sílabas das palavras quando estamos nervosas. E que loucura estar nervosa. Somos só eu e você.
Nós podemos conversar sobre o que você quiser, desde nossos desastrosos tarjas pretas dos quais tomamos a mesma receita, podemos falar dos efeitos colaterais, ou eu posso baixar os olhos e sorrir dura, que é exatamente o que acontece quando estou medicada, as pupilas dilatam e a pressão sanguínea vira uma  bagunça. Então baixo os olhos e você pode continuar falando e falando, com sua voz meiga, um montão de coisas sem sentido. Eu aceito, rio, te abraço e te dou um beijo.
Vai ficar tudo bem, não vai?
Seguro sua mão como quem segura qualquer coisa valiosa demais, e você diz que minha pele é macia, e as ruas estão vazias, já é bem tarde, noite de quarta-feira, duas garotas perdidas nas proximidades de suas casas que sempre ficaram tão perto uma da outra mas mesmo assim, nunca nos vimos.
Duas garotas sob os incomodos faróis de carros que passam clareando suas coxas brancas, brancas.
Tenho o ímpeto de te roubar pra mim, moça.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Sonofobia

Não é sobre a patologia que faz as pessoas terem medo de sons altos. É medo do sono.
As vezes chamo de insônia, ganhou um nomezinho popular, dizem por aí que é normal, e todo mundo tem, e o mundo vende mais Rivotril do que Água.
Tanto porquê, no desespero, a gente engole a seco mesmo, a pequena pílula passeia pela garganta arranhando cada cantinho, como quem quer avisar à todos que chegou. Uma dolorida proposta de paz.
E então quando me perguntam sobre a aparência fúnebre de todas as minhas manhãs, eu respondo o clichê, é duro ter que ficar explicando as coisas pras pessoas, e as pessoas perguntam demais, elas na verdade não querem saber se você está bem, mas sim se você está tão mal ou pior que elas.

Insônia a gente resolve com cafuné, com chá de erva doce, Rivotril, Dramin, Lexotan ou uma ponta.
Mas o medo de dormir é mais complicado, gente, é mais delicado. Se trata do medo de deitar na cama. Se trata, enfim, dos pensamentos que me vem à cabeça na hora mais escura da noite. É aquele arrepio na espinha, aquela dor de cabeça que dói dentro do cérebro, dentro das lembranças feias.
É o medo de deixar o cérebro fluir sem obstáculos, é o medo de se desocupar, de ser obrigada a tirar os olhos do livro, de ter de parar de prestar atenção no trabalho e deixar apenas seus pensamentos voarem....
Mas meu medo se resume no crítico problema dos meus pensamento nunca terem sido bons pilotos.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Bilhete para mamãe

Hoje o dia amanheceu bonito.
Hoje os as coisas se inverteram, a madrugada que antes eu idolatrava hoje me assustou, e o sol, que outrora incomodava tanto os olhos, dessa vez me acalmou. Abri a janela, pois a muito não via as folhas verdes dançando com tanta paz.
Hoje, os personagens da peça de teatro mudaram os papéis, foi Julietta quem morreu primeiro, foi ela quem se enganou com a química do tempo e com o veneno da flor.
Uma correspondência de amor chegou na casa do carteiro solitário e pobre.
Hoje a mídia parou e as pessoas compraram livros.
Hoje foi Bush quem pediu esmola, e o violeiro sem sapatos encheu o chápeu de moedas.
Hoje a Kwait amanheceu limpo, e o sangue que escorria do rosto dos soldados viraram sorrisos estampados em feições serenas.
Hoje o dia amanheceu bonito, bonito de se ver. O cheiro da dama da noite se transformou em camomila fresca.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Viver mata.

Quem fuma morre, diz naquela placa.
Se eu trabalhar demais eu posso ter uma crise de estresse e foder alguns neurônios, disse a psicóloga.
Mas quem fuma maconha mata o cérebro, disse meu pai.
Quem come demais também morre, disse o cirurgião-cardiaco.
Então eu vou ver televisão, mas posso morrer de alienação, enquanto coço os culhões, a barba por fazer e uma pizza de calabresa na mesa de centro. Aí eu fico gordo, aí não arrumo namorada, aí não caso, não tenho filhos e fico na solidão. Solidão traz depressão e quem tem depressão também morre.
Morre porquê se mata ou morre porquê não come.
E se eu ficar sem comer, fico magro, e todo mundo vai pensar que tenho aids, e nenhuma garota vai querer ter sexo comigo.
E se eu fizer sexo, posso mesmo ter aids, então eu morro de aids, ou de colesterol, ou de câncer de pulmão, ou de estresse, ou de vazio, ou de solidão, ou derreto o cérebro, ou piro de clinicas.
E se me colocarem numa clínica, eu vou olhar as canelas da enfermeira mau-humorada e torcer pra não me medicarem errado, posso ter um derrame, e porra, posso mesmo ficar com metade da cara paralisada, babando, chorando à seco, lendo literatura brasileira rica e esquecida, esquecido.
É perigoso morrer esquecido.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Café sem açucar

Entra sem pedir licença, me deixa brava só pra acelerar o coração.
Você sempre apareceu nos meus pensamentos sem pedir permissão, sempre veio parar embaixo da minha pele sem que eu pudesse me dar conta. Então eu te espero aqui, abre a minha porta de forma brusca, deixa tua sombra miúda se fundir nos contra-tempos dessas baladas bregas que ando ouvindo,anos 50,60,70.
Sua voz projeta ruidosas frases no meu ouvido numa frequência de 60hz.
Vem cá se misturar com a textura do meu carpete, com o cheiro dos meus livros, com a cor dos meus discos e a dor dos meus olhos.
Faço pra ti um café bem forte, sem açucar. Gosto do gosto que fica na tua boca que se movimenta dizendo coisas que só eu quero ouvir...
E só se ouve o que quer.
Você na verdade nunca esteve aqui.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

As ondas mortas

Se eu não ligo mais, por que é que olho?
E se olho, se te olho, se olho pro longe e você baixa minhas pálpebras e pede para que eu ouça o rio.
O rio está morrendo. Cansei de ouvir morte no notíciario, cansei de me despedir desse rio que não correrá mais daqui 30 ou 35 anos. E eu, aos 17, meio perdida, meio atônita.
Seja um pouco mais crente, seja um pouco mais paciênte. Perdi tanta gente nessa jornada e não me importa - Juro, não me importa. Acho que na verdade é tudo sobre mim. É tudo minha ganância e egoísmo, minha sinceridade não-mútua, meu silêncio abalador.
 Meu grande e inchado ego que tenta equilibrar o peso das costas um pouco mais para os ombros, para que segure toda a responsabilidade que despenca bem na minha cabeça, cuido da casa, cuido de ti, cuido dos pequenos, cuido da roupa, cuido da louça, cuido do desiquilibrio mental, administro tarjas pretas separados pelas iniciais da fórmula de cada laborátorio, eu não sou louca, eu sou apenas agressiva. Agressiva demais, violênta demais comigo mesma.
Não sinta pena de mim, me deixe estourar a mão em um concreto qualquer, alivia a alma, é verdade.
E as vírgulas seguem todas tão progressivas, como uma hiperventilação, como uma conversa mal resolvida, ninguem entende, ninguem acredita, e tudo isso incomoda, eu sou mesmo a porra-louca, sou sim.
A apedrejada, a sangrenta, a infiel, a descrente, a utópica garota da qual ninguém nunca deveria se aproximar.