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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Noticiário e silêncio

Este-silêncio-mata.

E não apenas mata, mas enterra, palmos e palmos de poeira da estrela que explodiu bem acima da minha cabeça. Enterra a alma no vácuo e enterra o corpo embaixo de um lençol florido sem muita graça, numa cama grande demais pra essa solidão. Enterra a cabeça em quatro travesseiros e a mente na televisão, um homem matou 27 em connecticut, pobre. "Das crianças?" -Não, dele, pobrezinho dele, Adam né?... Obama quer a paz, mas não tira as tropas da Síria, a miss universo também quer a paz, mas não tira a bela bunda do sofá cor-de-rosa, todo mundo quer a paz, todo mundo quer a cura, todo mundo quer ser amado, todo mundo apenas quer. E querer não é poder, eu queria tanto poder dizer ao mundo o que digo a mim mesma quando fecho os olhos e te imagino aqui.
 O poder, o pudor, ninguém mais se importa, mas mesmo assim, vivo de mentira à mentira, igualzinha a luz da televisão, e por um segundo nada mais é de verdade.
 Eu te lembro o tempo todo, cada instante do dia. Lembro tuas alcunhas, e tenho o ímpeto de cravar as unhas no meu próprio braço, tão forte até que sua imagem me deixe em paz. E me deixe dormir.
Depois que desligo a televisão, o barulho da eletricidade estática paira no ar, e na minha cabeça, marchas fúnebres ecoam, pelos 27 de connecticut, por Adam, pela Síria e pela lembrança da última noite que nos vimos.


domingo, 16 de dezembro de 2012

Oi, lucas, se você ainda lê essa porcaria, deixa eu te contar que descobri que somos mesmo muito parecidos, você um otário, eu uma perdida.
Que vive perdendo as coisas por aí, por sinal, perdi meu celular, perdi teu número, perdemos o contato.
Dê sinal de vida, reativa a porra do facebook, deixa um comentário de vez enquando, ou mande lembranças. Eu sinto saudades, e não quero perder você no tempo.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

E quando sorriu, ficou ainda mais bonita. - Para Liege Ligo

Olhos claros, na ressumbra de um dia que ainda está para nascer, que vem surgindo atravéz de escuros fios de cabelos grossos, fortes, brilhantes. Quem diria? Quem diria, que de tão frágil a porcelana que compõe teu rosto, nasceria essas maçãs maduras, que cheiram à primavera.
Ah, a garota vivia sofrendo por alguma coisa. Quantas pessoas eu gostaria de interromper a vida, mesmo que esse direito não me pertença pelas leis divinas, mas quantas pessoas eu queimaria vivas, por terem te feito chorar. Então, conte pra mim, o que te faz chorar...
Eu nunca mais quero te ver chorar.
Alívio. É o que eu sinto, muitas vezes, quando te vejo sorrir.
Sei que tudo isso é vida real, é dor real, mais que isso, é a realidade crua, da qual a maioria das pessoas não conhecem, apenas julgam. Realidade nua. Mas me diga, moça dos olhos claros, esse teu sorriso, é de verdade?
Pois como eu gostaria que fosse. Teu olhar eu sei que é, são como duas janelas de uma cabana em um resort. São como as escadarias do céu. E eu sei que desde o início, olhei-te como se eu soubesse que você também não era daqui.
Somos como limbo na água que outrora era potável, somos pedaços de quebra-cabeças sem par. Ou talvez estejamos aqui, a par de tudo que acontece, e toda sujeira que nos rodeia, sei que não te conheço, mas te sinto.
Desejo, apenas que teu sorriso seja de verdade mais vezes, pois sei que ele é, a maioria do tempo. Pois pessoas fortes não são derrubadas, e quando tu caí, teu espírito se eleva, e se eleva tanto, que posso sentir, a paz vai chegar, eu prometo. Por mim e por você.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Um banho bem frio que serviu pra acordar pra vida.
Eu me encontrava inerte, e a agua corria.
Joga gelo nessa história, corta tudo isso. Congela esse negócio ruim e atira longe, quebre em mil pedaços esse nojo que senti de ti. Só quero que permaneça intacto aquilo que senti outrora antes.
Apesar de tudo, demônio, te amo.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Madrugada colorida

Na intimidade de um quarto com as cortinas roxas fechadas, é madrugada.
A pele é branca como leite, derramado no carpete de madeira, a boca é roxa como a cortina que lambe as paredes assim como a boca lambe a carne, e a carne arde na ressumbra de diáfanas pernas trêmulas, morde os lábios, ri rapidamente, é madrugada.
O pecado mora embaixo da saia e sua pele dorme embaixo das unhas vermelhas.

domingo, 28 de outubro de 2012

Cinco horas da tarde e cinquenta e oito minutos perdidos no tempo



No lugar de segurar seu orgulho, você deveria ter segurado à mim.

Entende agora porque eu ficava brava quando vc saia com seus amigos inconsequentes? Meu bem, eu nunca desejei sua morte, você entendeu errado, você sempre entende errado. É que as vezes eu tenho raiva, sabe?Raiva de mim, de você, das brigas desnecessárias e da idiotice que foi ter abrido mão de tudo que era mais importante pra mim.
 Eu não tô legal, mas já aceitei o fim.
 Tenho até me cuidado, larguei aquelas besteiras, tô fazendo tudo da forma que você mesmo disse que eu deveria fazer, e você tá bem? bom, eu nem sei porque que eu estou te falando essas coisas, você não liga mesmo. Chegou a pedir pra eu te deixar em paz, e olha só, quem diria! Dessa vez foi de verdade, dessa vez doeu bem mais fundo.
 Então, eu vou acabar te deixando em paz mesmo, uma hora ou outra esse negócio ruim entalado na garganta, apertando o peito e ardendo os olhos e secando a boca vai passar não vai? 
 Vai ser difícil. Eu bebo, fico louca, esqueço as chaves, perco o celular, perco a cabeça, esqueço meu endereço e esqueço meu nome, só não esqueço seu número, mas... você nunca atende. Nunca tá nem aí. 
Pedi pros meus amigos não deixarem mais eu te ligar, desculpa quando eu te ligo. É que eu esqueço de fingir que te esqueci. 
Agora, acho que falei quase tudo. Só te peço uma coisa. Se cuida. Se cuida bem.



Outubro. Tinha esquecido que o Outubro era a reabilitação da ressaca de Setembro. 

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Another bullshit

Diga a ele que você me viu
Que eu parecia muito bem
Apesar de tantas noites vazias
Tantas madrugadas vendo tv
Na verdade, dias intermináveis
Diga a ele que me viu num bar
E eu estava com umas amigas
Apesar de eu conhecer quem me rodeia
Tantos estranhos tão perto
Na verdade, longe do principal.
Diga a ele que me viu sozinha.
Diga que ele sabe onde eu estou
Diga a ele que me viu na rua
Que eu caminhava muito devagar
Que eu olhava para todos para enxergar
Tanto espaço dentro de mim
Na verdade, ele sabe quem eu sou.


Diga a ele que me viu crescer, que eu parecia tão melhor. Diga a ele que me viu estudar, diga que eu parecia tão importante. Diga a ele que, de vez em quando, eu ainda pareço tão inocente.


domingo, 23 de setembro de 2012

Setembro, de novo.

Eu sempre esqueço do dia, mas lembro do mês.



A gente mal se conhecia... Nos vimos apenas uma vez. Mas foi como a fotografia
de um velho filme francês.  Não fosse a roupa que eu vestia, naquele estilo new wave, quem sabe eu conseguiria chegar perto de você. Adolescência vazia..... Eu tinha quase 16. Ninguém me compreendia e eu não compreendia ninguém.
Fiquei ali sentada sobre as mãos, pensando em te perder.

O homem sem nome.

-Tem um isqueiro parceiro? -ela perguntou, enquanto lutava para por aquele irritante fio preto de cabelo atras da orelha, perguntou no mesmo tom alto que sempre utiliza, porém, no timbre baixo, deixando evidente em sua voz o desinteresse por aquela tarde de primavera tão frágil.
-Isqueiro? -A voz dele, assustada, foi quase cuspida de suas cordas vocais, como se tivesse entalada outrora antes. Os olhos rápidos era vivos, diferentes dos dela, e retirou com cuidado do bolso algo que ficou oculto em suas mãos velhas, cansadas. Ele ainda era jovem, não era moço, mas também não tão velho quanto suas mãos. Não tinha nome, apenas algumas tatuagens desbotadas e indecifráveis.
-Eu tenho bic.
Como acostumada a viver em meio a absurdos, ela já não pergunta, apenas surge uma pontinha de interesse naqueles olhos cor de areia, E para um homem acostumado a se comunicar por sinais, bem soube ele que teria alguém para contar sua história de quase vida.
Após acender o marlboro dela, o homem toma fôlego, olha para o céu. Falava rápido, parecia meio insano, meio interessante, meio morto, meio livre. Exatamente isso -Livre-
-Preste atenção no que eu te digo, moça, pois hoje -que dia é mesmo hoje?-
antes de responder a pergunta do até então desconhecido, ele se propôs novamente a falar, como se sua dúvida não passasse de uma pergunta retórica.
-Hoje eu saí da prisão.
Nós, não sabemos ao certo qual a reação que ele esperava, mas ela não deu um passo pra traz, nem agradeceu a brasa e se foi, apenas aguçou aquele interesse súbito que não se vê muito no rosto dela. E então, foi a primeira vez que ele deixou de lado o olhar irracional de um animal na jaula e os traços de sua feição pareceram.. Relaxar, e deu a impressão de que a muito tempo isso não acontecia.
A arqueadura de sua sobrancelha mudou, e agora, com os olhos calmos, pode continuar.
-Há doze anos atras, eu matei o estuprador da minha filha.
Então, a perturbadora sensação pareceu invadi-lo novamente, enquanto contava repetidas vezes seus códigos de guerra, As palavras proibidas, as chaves, os planos nunca vitoriosos, a dor, a solidão, a loucura. Vivendo por doze anos com animais ferozes, se tornando também um deles, pelo simples fato de ter matado um animal cruel.
 Sem saber como ajuda-lo, sem poder se envolver, Agradeceu com um rápido baixar de olhos e mover dos lábios, num quase sorriso, e foi-se embora. Deixou, por sua vez, o homem e sua liberdade, a morte e sua gratidão e o sangue na mão que não apertou.
O homem sem nome perdeu sua sanidade, liberdade e a sua criança, enquanto o estuprador, apenas perdeu a vida, suas ultimas palavras soaram como uma tentativa frustrada da reza tradicional, e agora me pergunto, o estuprador de fato de se arrependeu perante Deus e perante a morte, enquanto a pequena menina violada de nada teve culpa.
Eles estão no mesmo céu?
O estuprador e sua vítima.
Vocês são estúpidos.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

160 dias com você




Bonito demais, jovem demais para que esses dois adjetivos soem harmonicamente na mesma frase. (Portanto, alguns conflitos)
Ele prestava atenção em coisas que ninguém repara, ele é um artista e tudo que ele tem é o céu.


nona carta

18 de setembro
meia noite e meia
o telefone toca, estou ocupada, metade despida, metade vestida, carregando livros num só braço, aturdida.
Atendo, ou não?
Claro, claro que era você.
-Estava dormindo?
-Não, ainda não.
-É, achei mesmo que você ainda não tinha aprendido fazer isso.
.....
Silêncio. Coisas banais são ditas cortadas pelas entrelinhas da saudade que é tão evidente, decadente, monstruosa, porém, cada mês que se passa, um pouco mais omitida, é como se tivessem arrancado a estaca do meu peito e colocado no lugar apenas uma voz de uma paralela que se cruza lá em Curitiba.
(Longe, Longe, aqui do lado. Paradoxo. Nada nos separa...)
E então, eu ando estudando, meu bem. Por quê você não larga dessas bobagens e volta? Ou me deixa te visitar. Prometo que não pego tanto no seu pé, prometo que não vou lhe cobrar tanta atenção, objeção, não vou, só quero mesmo é lhe ver. Tento uma pequena poupança, ando pensando muito em entrar num avião, quem sabe, te encontrar?
E você me disse que não dava, que saía caro demais, que tá tudo distante demais, como é que se diz? "far away, baby"  Mas é cada coisa que me acontece! Olhe pra mim! estou me matando de estudar que é par...
-então você me corta a fala como quem corta uma garganta com uma navalha... Logo você, que nunca corta a fala de ninguém, tá sempre ali, esperando a pessoa terminar de falar, sem olhar nos olhos, sem deixar ninguém se certificar de que você está mesmo absorvendo tudo que é lhe dito, e eu, frenética, agora olhando no espelho, sentada no chão, tossindo, vermelha, e você diz que eu tô sempre me matando de alguma forma.
É verdade. Verdade mesmo. Mas de todas as formas você esteve aqui do meu lado, e agora, olhe só, que coisa mais impressionante-inacreditável-utópica. Estou mesmo careta e cafona, cercada por paredes pintadas e com as unhas intactas, fumando filtro branco, desdobrando as bainhas das mini-saias, cicatrizando as feridas. Que coisa mais engraçada, meu irmão.
Sinto sua falta até demais, você sabe me ler como quem lê  e entende um livro de Paulo Coelho, você consegue me interpretar mesmo quando minhas páginas estão amareladas e rasgadas, você sabe contar quantas lágrimas caem sem ao menos me ver.
Então você me manda embora, me empurra com as palavras, diz que vai atirar o telefone pela janela num dia desses,e eu fico aqui pensando a gente se despede, mas nunca desliga.





quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Cicatrizes e livros, futuro e passado.

Colocar o livro amarelado na escrivaninha, desligar a luminária, apagar o cigarro, aquecer os pés.
Ritual de todas as noites, fechar os olhos e imaginar o futuro.
Imaginar diálogos que nunca acontecem, me imaginar convivendo com gente que foi embora, pensar e repensar sobre o que eu deveria ter dito, ou o que eu deveria ter vestido, que horas eu deveria ter partido.
Desligar-me parcialmente da realidade e me encontrar inerte, sem expressão, com as pupilas dilatas pelo escuro e a iris vidrada pelo cansaço, e inerte continuo a pensar, pensar não em como será daqui cinco anos, mas criar uma linha paralela de outros cinco anos à frente.
Foi então, numa dessas noites que, antes de apagar a luminária, entrei quase num estado de alfa. O livro soltou-se dos meus dedos e minha mente foi se desligando enquanto as linhas que dividiam as quatrocentas páginas de biologia iam se embaralhando... e sumindo.
Não pensei então, em cinco anos à frente, mas à cinco anos atras.
Me vi sentada sob essa mesma cama, agora repleta de problemas à resolver, livros à ler, futuros à pensar. Me vi também no passado.  Vontade de segurar os ombros magros da garotinha loura e chacoalhar forte, eu entenderia, entenderia se alguém me dissesse, mas ninguém nunca me disse como é que ia ser.
Se alguém me contasse, eu tenho certeza, certeza de que não teria tantas cicatrizes nos meus braços.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Galeriscos e calor

Não foi o relógio atrasado que me deixou triste. Dessa vez, nem foi tanto o barulho. A vizinha impertinente falava coisas desnecessárias para mim, enquanto aflita, levava o pulso bem perto da cara seguidas vezes, míope maldita que eu sou, havia largado os óculos em casa quando saí no desespero de te encontrar.
Não foi o calor, o sol queimando a pele, a roupa preta quente, não foi os olhares, nem foi nada disso que me mata todos os dias, o que me matou foi não te ver.
E me pego pensando, será que você ainda lê isso? As coisas que nunca direi em voz alta. E fico te imaginando, no seu quarto, vestida três vezes mais que o necessário, rindo de mentira, com os cabelos presos formando uma pequena cascata atras da sua cabeça, e tento adivinhar, o que é que se passa nessa cabeça?! Meu deus, olhe no que eu me transformei. Novamente são três da manhã.
Acho que três da manhã é sua hora, será?
Não sei se ainda faz sentido o que eu falo.
Lembro dos teus olhos, eu vi galerias nesses olhos, uma galeria de quatorze andares e completamente iluminada, ela fica em alguma cidade que ainda não existe, e nessa cidade só faz noite.
Na verdade ele fica mesmo nos seus olhos e pronto.


quinta-feira, 30 de agosto de 2012

School days.

O clima desse lugar é diferente, me parece mais frio e úmido.
Nesse pico de fim-de-mundo eu posso ver as luzes dos bairros baixos alaranjarem a noite. Com um último trago, eu me despeço desse pedaço de silêncio, pois em cerca de dois ou três minutos a rua vai se encher de rapazes com suas motos, exibidos demais, magros demais, irritantes demais. A rua sem saída vira um hall  para esses malditos carros porcamente rebaixados tocando música ruim. Fere meus ouvidos, machuca meus olhos, embaralha minha mente.
Chego a pensar como me tornei assim, tão intolerante, ou se é apenas questão de que venho ficando à cada dia, mais louca.
Desenrolo meus fones de ouvido, meus dedos pressionam freneticamente o  botão onde se aumenta o som, mas já está no máximo, e meu rock antigo se mistura com o lixo moderno.
Engulo meu próprio veneno enquanto mordo forte os dentes, me dirijo até a sala de aula, todo dia me sinto como se fosse a aluna nova que fui à oito meses atras, me sento contra o armário, tentando me esconder ao máximo e fugir dos cumprimentos tão cansativos e desgastantes, Aqui, no canto perto do armário é mais confortável, se não fosse pelo garoto que fala alto demais, com esse sotaque paulistano lazarento, me sinto também uma paulistana, sozinha, amarga.
Por cima dos meus óculos percebo o olhar malicioso de um professor que nada explica, apenas enche a lousa de qualquer coisa e senta-se. O barulho do giz arranhando a lousa já machucava meus ouvidos, mas esse olhar, me machuca ainda mais. Um par de olhos que eu gostaria de furar, de apagar meu cigarro na córnea desse filho de uma puta.
É ignorância demais, gente demais, vozes demais e educação de menos.
E a minha paz de espírito se encontra numa sala bem distante, aquela acolchoada e isolada, se debatendo.

Desmundo

Quem eu sou? Quem somos nós?
Um punhado de átomos agrupados formando um universo profundo de coisa-nenhuma.
Uma brincadeira profana de  alguém que acabou dando muito mais errado que o planejado.
Quem somos nós, que tanto nos orgulhamos da suposta complexidade que nos compõe, sem ao menos pensar que só é complexo devido nossa própria incapacidade de pensar, de reagir, de levantar.
Olhe ao redor: um imenso contraste nos cerca e me ofusca os olhos.  Dos trapos à seda, do dinheiro à fome, das lágrimas desperdiçadas por uma pré adolescente mesquinha aos traços duros de um homem que passa frio e miséria, descalço, incapaz de chorar.
E o mundo? O mundo é um pobre pai que sustenta um bando de eternos pré adolescentes mesquinhos e ingratos. Quanto a mim? sei exatamente o que eu sou: Uma pequena porção de lama nessa porquice toda.
Lama não se torna água, mas água se torna lama.
Parem.
Pensem.
Existam.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Era uma tarde bonita e sinto que foi a última tarde tão bonita desde aquela tarde.
Acontece que foi tudo rápido demais, tudo delicado demais, intenso demais.
O vento empurrava os cabelos que lisos chicotavam o pescoço desnudo, enquanto o sol aquecia as pálpebras, que agora, quando as fecho, engulo seco. Engulo gosto de qualquer-coisa, agridoce, amargo.
Tentei evitar de tocar, tinha a impressão de que nossas peles gélidas entrariam em algum conflito quando contactadas, dois malditos íons da mesma ação, eu e ela. Soa como algo explosivo.
Ah, a menina vivia sofrendo por alguma coisa. Tinha os olhos de quem veio pra ficar, de qualquer forma, ficar -ou me fazer ficar- E da mesma forma eu ficaria, plantada na frente da tua casa, dormindo fragmentadamente enquanto acordo pensando em você em períodos quase cronografados.  Enquanto minhas noites mal dormidas geram essa desvontade de estar acordada, planto meus pés frios embaixo dos cobertores e implanto meu telefone na orelha, enquanto conto quantas vezes irá chamar, o barulho hipnótico deixa-se aprofundar na minha mente....
 Três da manhã.
   Não durmo.

sábado, 18 de agosto de 2012

Só queria te contar.

Só queria te dizer, que passo horas pensando no que falar quando te ver, mas nada sai.
Na verdade, só queria te dizer que não sei o que dizer, então, é isso.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Hello Stranger

"Eu conheci uma garota que eu já conhecia"
Nunca à tinha visto antes, por nenhuma rua das quais andei, nem um bar onde afoguei meus excessos. Talvez um dia, bêbada, à encontrei sangrando por dentro, e me lembrei que já à conhecia... do escuro.
Seu passado caminhou ao lado do meu passado, sua dor agarrou forte a minha mão, o frio que te gelou a espinha também arrepiou meus braços. Meus olhos pousaram na falha pigmentação das marcas dos seus. Irreversivelmente me prendi a você, mas e agora? Não sei quase nada sobre você, apenas me recordo abstratamente de repousar sob seu peito nas noites em que atravessamos o inferno, mas isso não aconteceu de fato, e eu nunca tive seu número de telefone antes.
Os ruídos da tortuosa aula onde me encontro trancada numa sala a onde se abrigam quarenta demônios, soam como uma música desconhecida, mas ainda assim familiar...
Não consigo entender nada sobre as tangentes diabólicas no quadro a minha frente, estou dominada por outra utopia. Não consigo encontrar a resposta de porquê você é tão calada, uma vez que sua voz é tão bonita.
Seus solenes olhares escondem e refletem simultaneamente tudo aquilo que procurei dentro de mim mesma.
Mas então te reconheci no escuro, e no sorriso de uma criança.
Bem vinda, estranha.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Cocaína


Você está se contorcendo em dor. Leve a sua vida, tire a sua vida com a cocaína.
Mas você é o que é, faz o que pode só quando pode, eu bem sei, e será que você mesmo não sabe que não poderia estar fazendo uma porra dessas?
Você está se sentindo tão bem agora...
Todos os seus problemas foram embora
Mas amanhã, quando acordar, todos os seus problemas estarão de volta -para ficar.
Sua vida,
Um jogo
Erga-a, erga-a com cocaína
E você só consegue curar essa ferida tiro após tiro, dose após dose. Me explique então o que é, me explique o porque. Provavelmente seu motivo não vale uma merda comparado com todas as consequências, vamos, diga! Grite para que eu possa ouvir, mas você está falando tão enrolado... O que aconteceu? 
Agora é tarde demais.... Ninguém mais te ama como deveriam. E a culpa é sua. Isso tudo não precisava acontecer, mas tudo bem, estique mais uma que é para esquecer, lamba a lâmina até que sua língua esteja tão amortecida que suas palavras percam a cor.
Agora é tarde demais, tarde demais para viver. E sua consciência está te matando
Então você está vivo, mas não está livre. Você, eu, e todos os que podem se identificar com essa merda também.
A pequena Branca-de-neve quer fugir mas não tem para onde ir. E você já está em um lugar onde não posso te alcançar, mas eu espero que você se lembre, que sua neve vai te congelar no inverno.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

120 dias

Uma xícara de café gelando, cigarros acesos, minhas unhas sujas e compridas passando tão delicadamente sobre sua macia pele... sentindo cada arrepio que isso te gera... assim pudera ser todo dia, assim pudera ser. E se o mundo acabar amanhã eu morreria com um pequeno sorriso por fora... e uma grande felicidade por dentro. E o que é felicidade pra você? Em minha humilde e sincera opnião a felicidade está descrita nas primeiras míseras palavras quase faladas aqui... porque são desses pequenos e gigantescos momentos que eu me esqueço de como a vida é fútil ridícula... assim pudera ser pra sempre. Quer fumar?

Ivan Marconato 

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Trens e arvores secas.

Eu sou mesmo assim, ando rápido demais, penso mais do que falo e penso rápido demais pro meu conforto mental. Uso sempre as mesmas roupas, rasgadas, desbotadas, cansadas.
Ignoro mensagens no celular, finjo que não vejo pessoas, ouço sempre as mesmas músicas todos os dias.
Não consigo passar por doze meses sem mudar a cor do cabelo pelo menos três vezes.
Não suporto falta de simetria, gosto de rotina, estudo muito, vou pouco à escola.
Fim de semana gosto de não ter certeza se a segunda-feira vai chegar.
Já experimentei quase tudo nesse mundo, tudo que eu tive oportunidade, já desmoronei algumas vezes, já pirei de clinicas, já me senti morta justamente por viver demais.
Tenho manias esquisitas, mania de vela, mania de escuro, mania de livro, mania de gente esquista.
Amigos que eu conto nos dedos de uma só mão.
Gosto de cores, mas ainda sou a garota usando preto.
Odeio contradição e tradição
Libertina, feminista, irritante, briguenta, intelectualzinha insuportável, ciumenta, temperamental.
Essa sou eu.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Oitava carta.

Luca foi embora e não voltou mais, o trem das 7 e 30 partiu sem ele.
É um coração de metal sem alma na fria manhã da cidade.
Na praça, o banco está vazio, mas ele está dentro de mim. É doce tua respiração entre meus pensamentos, mesmo com uma enorme distância que parece dividir-nos. Mas meu coração ainda bate forte.  Quem sabe se você pensa em mim? Se com a sua família você não fala mais. Eu sei que você se esconde, igualzinho à mim, foge dos olhares e fica lá, trancado em seu quarto sem comer. Quem sabe se você aperta forte o travesseiro e chora, enquanto eu não posso te ver?
No meu diário tem uma foto de Luca, ele tem os olhos tímidos de uma criança. Me apertou forte, fingiu não ver as lágrimas que caiam e disse "um dia você entenderá" Mas não é fácil, você sabe.

É a inquietude de viver a vida sem você. Te imploro, volte, porque não posso ficar sem você.Não é possível dividir a história de nós dois






La Solitudine

Sétima carta - para se ler ao som de mariane

Eu não sou do tipo que espera o telefone tocar, meu bem, não sou mesmo.
E não é que eu esteja agora, se nunca esperei antes, porque raios deveria estar ansiosa olhando para a luz que se acende e apaga toda vez que minha unha mal colorida pressiona o botãozinho do centro desse aparelho riscado. Então desvio os olhos, acendo outro cigarro, apago como quando apagava no seu braço, marco o cinzeiro como marcava sua pele, estranha sensação de me deixar presa em ti. Foi no sábado passado que você me ligou e a tarde ficou acinzentada; a voz do outro lado era tua, mas não senti sua essência, o que anda acontecendo, meu velho amigo? Ando um pouco angustiada toda vez que meus passos falhos caminham em direção a velha praça, ando trabalhando o dia todo, ando pensando muito em você. Então você liga, fala mas não conversa, me diz que sua vida não vale mais que um copo de cerveja e eu digo claramente que não, que sua vida vale toda a minha história, mas pensando bem, a história cabe mesmo num copo americano engordurado, porém, com cerveja gelada. Já pensou se a cerveja não esquentasse nunca? Já pensou se meu cabelo ainda fosse vermelho? Já pensou que louco, que louco que seria se você não tivesse ido embora.


segunda-feira, 30 de julho de 2012

Quem sabe?

"Se tudo passa quem sabe você não passa por aqui" e percebe que pra mim nada passou. Quem sabe assim você deixa de passar por mim na mesma velocidade que vem passando essa tempestade que venta desde sexta-feira passada.


sexta-feira, 29 de junho de 2012

4:20

Tanto que eu sei, mas não sei te dizer. Só sei escrever, que assim não preciso ouvir o tom rouco-desbotado da preocupação na minha voz, tão evidente, quando se trata de qualquer coisa que me queime a alma, como você. São coisas das quais não me adapto, e me torno pobre. 
Tanto que eu sei de mim, mas não sei nada sobre esse teu dom de desferir palavras como quem desfere braçadas num oceano em que se precise nadar até a praia, essa praia. Os sentimentos escapam da minha mão como areia. 
Olha, moça, eu queria tanta coisa, tanta riqueza, tanta cor. E você aí só quer um cigarro pra curar essa dor.
Quando me mira-me nos olhos com teu jeito louco de dizer só com olhar, diga que vai ficar tudo bem.
Ninguém é bom nesse jogo em que estamos, então não se assuste.
Isso vai ser interessante.

domingo, 24 de junho de 2012

 As vezes me pergunto o que é que aconteceu comigo. 
 Eu devia ser mesmo muito intrigante, como qualquer local inexplorado antes. Uma criança que precisava de alguma coisa para de se agarrar, e veja bem, justo você. Ainda me lembro do momento em que toquei sua mão, a noite que você estragou tudo pelos seguintes anos. Eu era um pouco assustada, muito perdida e sensível, completamente sensível à sua aproximação. Enquanto você tinha os olhos anfetamínicos, eu era tão inocente e estava lisonjeada com a atenção que recebia, sem entender suas intenções. Coloquei lentes cor-de-rosa e saltei sem olhar para traz para dentro do seu abismo.  Era tudo opaco, mas eu via brilhante. Irritava meus olhos, mas eu negava ajuda e não aceitava nenhum tratamento. Você foi frio, eu fui quente por nós dois. Eu só queria algo para amar, mas acabei precisando de muitos curativos. E então, como é? A sensação de quebrar um coração de uma insensível. Deve ser um tanto estimulante, toda essa historia manchada de sangue. Porque seu erro se repetiu tantas vezes, que começo a pensar que não eram erros para você, eram conquistas. Hoje sei que a cada vez que meus olhos perdiam a cor, e inchados se transformavam em cinza, seu arrependimento era forjado, e satisfeito você sorria por dentro. Você foi o único que me viu assim, tão aflita. E pensando bem, acho que foi uma glória.
 Só agora, lembrando de tudo percebo que não chorava sua morte, chorava a minha.
 Colocando esses momentos lado à lado, posso ver que já não falo sobre isso, já não me incomoda sua existência falha.  Uma voz conhecida que se calou, uma ansiedade que foi embora. Eu pensava que me faltava você, mas me faltava amor próprio.
 Só me arrependo de ter te deixado acontecer na minha vida.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Se te amo, é com fones de ouvido.

 Como é que você veio parar aqui? Aqui, eu digo, dentro do meu cérebro. "Você" claramente abandonou meu córtex consciente e se espalhou por toda essa área cortical atrapalhando a comunicação de todo e qualquer neurotransmissor que teria a função de manter as coisas em ordem; Pois a bagunça que você provocou aqui do lado esquerdo afetou os quatro lobos.
 Então quando paro pra pensar sobre isso, e tentar achar a fonte primordial disso tudo, numa vaga esperança de conseguir controlar ou pelo menos entender qualquer que seja a circunstância que me inunda de dopamina, percebo que é crucial, como música.... E como música, sua existência na minha faz meu cérebro reagir sem especificar nenhum hemisfério, assim, tomando-o por um todo.
 Se te comparo com a música, é por que sua presença exige de mim uma ação involuntária que me faz arrepiar, como se viesse da alma e eletrizasse meu corpo, então te amo com fones de ouvido, que é para conseguir captar totalmente os tons, semitons e seus ritmos. Posso comparar também com fones de ouvidos daqueles bem grandes que me afastam dos barulhos ruidosos, é como se eu esquecesse tudo que passa lá fora, por que só me interessa o que eu ouço dentro de nós. Você se tornou, não sei quando, a principal rodovia entre o meu cérebro e coração, por que é inegável o fato de que ele bate mais rápido quando te vejo, quando te ouço. Meu corpo todo reage à sua presença e principalmente a sua ausência.
 E se te amo com fones de ouvido, é por que te amo com o cérebro, e não com os olhos, e bloqueando o resto dos sons do ambiente, não me importo com o que os outros dizem, e nesse processo todos os meus sentidos se alteram, chegando a ser assustador mas extremamente bom.
 É da dopamina que eu estava falando, mas não sei que substância você tem. E qualquer que seja, não me veio com receita, mas parece feito sob encomenda.



domingo, 3 de junho de 2012

Eu, Clarisse.

 Sim, é daquela música cantada com expressão de dor que eu falo. Pensei que havia saído da minha moda, tanta tristeza assim de uma vez só pelo mesmo maldito motivo, mãe.
 Comprei meia garrafa de vinho hoje, neste domingo completa seis meses e olhando para baixo eu só tenho certeza que quero evitar a cor branca, azulejos, lençóis azuis, luz ofuscante, olhar sem direção. Cada vez que fecho os olhos me vem a imagem das minhas mãos esfoladas, meu pescoço imobilizado e os joelhos cobertos por lençóis azuis, numa maldita cadeira de rodas. É tudo que eu me lembro, mas eu consigo reproduzir perfeitamente os dias antes disso tudo acontecer. Quem sabe os anos. Já parei no hospital bem antes disso, e dessa vez não tive culpa, eu tinha apenas meia dúzia de anos e já acordava pensando em como iria escapar das suas agressões que me doíam muito mais a alma do que o corpo, que de tão pequeno, me escondia embaixo da escrivaninha enquanto via suas sandálias se arrastando, iam e voltavam, o barulho das cápsulas das suas pilulas, o som da sua voz estridente gritando, e os vidros se quebrando. Se lembra como é que eu consegui todas essas imperfeições? bem, eu me lembro. E não sei se mais alguém sabe, que quando fui atropelada aos cinco anos, eu estava fugindo de você, e meus joelhos ainda doem. Sinto essa dor todos os dias, me lembrando que passei por isso sozinha, sobrevivi à você. Não tive meu pai ao lado como meu irmão teve, pois nem meu pai te aguentou. A verdade é que nunca me senti em casa, e até os refúgios que encontrava  as vezes eram mais confortáveis. O porão, a praça.
 Hoje, eu já desisti de procurar refúgio, ainda não te olho nos olhos, mas já não temo, sei que não quebro mais. O que me dói é a lembrança pintada com giz de cera, de como sua voz ficava mais agradável enquanto eu tomava um baque de 3 gramas no braço esquerdo, eu sentava no meio do meu quarto nesses domingos à tarde, metia fundo a agulha na veia e fechava os olhos, enquanto você parada no lado de fora gritava todas as coisas das quais não consigo me lembrar, dezessete segundos eram o suficiente para que tudo mudasse de rítimo, para que sua voz se tornasse agradável, quase com humor. Dezessete segundos e três gramas de cocaína barata, colher, vinagre, isqueiro, seringa, corda, árvore. - Então era do hospital que eu estava falando, manchas de sangue nos meus olhos, o que foi aquilo? não sei, não me lembro. Ah que bonitinha que você estava do meu lado na maca, de vestidinho florido, segurando minha mão, se fazendo de vítima de como a vida é tão cruel com você e o que será que você fez de tão errado que mereceu ter a filha que tem, e ai meu deus, liga pro pastor, vem aqui colocar essa mão nojenta na minha testa cheia de óleo de cozinha com essência de sabe-se-lá-o-quê enquanto grita "sai do corpo dessa menina, satanás" e eu rio, rio desesperadamente, por que não é possivel que tenha acontecido tanta merda. Vem cá, homem de gravata, quanto você pagou nesse terno? é com o dinheiro que as velhinhas guardam embaixo de colchões rasgados que você comprou? você sempre usa ele, ou só em dias que você expulsa demônios?
 Abre os olhos, seu verme infame. O demônio não existe, e se existisse não sairía de mim, por que EU saíria dele. Entende? é simples, simples. Agora olhe as marcas roxa nesse pescoço, isso aqui é real. Real até demais. -depois eu fechava os olhos e ria de novo, ria torta, ria enquanto era segurada e mais uma dose cavalar de sedativo era aplicada intra-venal; Cuidado, crianças. Pois se falar a verdade agora, eles te internam.
 Então hoje fazem seis meses. Ontem estive bem em frente ao hospital onde tudo isso aconteceu. Eu sentei na calçada e minhas lágrimas não caíam, elas paravam ao redor dos meus olhos.

Aonde foi que nós erramos, mãe? eu deveria ter me enforcado com o cordão umbilical.


quinta-feira, 31 de maio de 2012

Um pequeno texto estúpido.

ou até mesmo a Marcela.






 Nasci na primeira quinzena do ano, em uma madrugada quente. Capricorniana edaz, com um âmago cheio de balbúrdias,  do tipo que não agrada muita gente. Uma alma com algumas nódoas mas tudo bem... Coisas que aprendi a lidar. Demorei muito tempo para aprender a lidar comigo mesma, e não cobro isso de ninguém. Já não imploro a admoesta de qualquer um, aprendi a ser assim. Uns me chamam de orgulhosa, mas saibam que também sou muito tênue, vez ou outra tenho alguma veneta, claro, todo mundo sabe que tenho um tanto de hipocondríaca, um pouco de libertina e uma boa dose de foda-se-toda-essa-merda.
 Pois apesar de tudo, e de todas as vendas que amarram-te às caras ainda vivemos num século onde a doença que predomina é a ansiedade, não vivemos numa grande crise, a única que temos é aquela que nos faz arrancar os cabelos ou chorar dentro de um boxe embaçado do chuveiro quente sem saber direito o por que. A grande depressão está no vazio que fica após desligarmos a televisão e quando só resta a luz do refrigerador que se abre e se fecha cheio de comidas congeladas, assim como nossa juventude, congelada, ignóbil.
 Vivemos claramente na geração prozac, meu amigo. Aquela saudade súbita de só deus sabe o que, a desconfiança constante, o movimento das ruas cheias de pessoas vazias e sabemos, infelizmente sabemos que não sabemos o que é que vem depois. Não sabemos de quem é a culpa, e sendo assim, vira-se a página, deixa estar sub-entendido, por que não podemos fazer nada mesmo não é? Então por que não ser decadente também, o governo liberou ser decadente. Vem, senta aqui junto comigo mas não chega muito perto, por que comecei até ter medo de gente. Só me paga uma cerveja por que não sei como lidar com a fome na África. Não me fale dos seus amores não, meu bem, vivemos num lugar onde esquecemos o que é amar e demos à isso outro nome, achamos qualquer coisa mais legal pra fazer nos sábados à noite do que amar, não é? Então chega de contar como é que ela partiu seu coração, se tem tanta gente morrendo na rua, se você não pode fazer nada com isso por que é que se preocupa com a merda dos seus amores não correspondidos, me poupe... Eu já cansei, quem escreve hoje em dia só escreve sobre isso, foi-se meu querido Álvares, foi-se Caio F, foi-se Renato Russo, foi-se todo mundo. E continuamos aqui, nesse desmundo, remungando as mesmas baboseiras sem nunca chegar à lugar nenhum.
  Ah, vem pra cá e segura minhas mãos, que elas são frias....


Algo por mim

-Então você promete? promete de dedinhos cruzados, assim? -Ela dizia enquanto fazia uma cruz com os dedos indicadores e os beijava. -Promete que nunca mais vai gostar de alguém só por não gostar de si mesma. Promete que vai gostar de você?
 E eu estava mesmo um tanto encantada. Não dizia uma palavra mas concordava com os olhos, era tão verdade tudo aquilo, ter sido uma fracassada por culpa de fracassados era tão... Eu. E estava tão na hora de mudar.
 Não sei se era só admiração ou se era um certo gosto por ouvi-la rindo.
 O importante é que aprendi muitas coisas, coisas que me fizeram pensar em como a vida é coisa pequena, coisa delicada, coisa que a gente precisa cuidar bem.
 Eu já senti tanta dor... Eu já me acostumei com ela. Era uma época em que chorava todas as noites agarrada ao travesseiro, época que sentia raiva do que me fazia sentir dor. A dor... Houve momentos em que pensei que ela faria parte da minha vida, todos os dias. Hoje ela aparece, as vezes. Vem ver como é que eu estou, e à recebo com um sorriso, "bem vinda, você que me fez tão forte." Mas ela vai embora antes do café ficar pronto, por que sabe como é, essa coisa esquisita da felicidade afastar tristeza. Acho que todo mundo deveria escolher um dia pra tentar ser um pouquinho feliz. O difícil é querer. Olha quem fala à vocês! a garota quieta, com cicatrizes nos braços. Era só disso que eu precisava mesmo. Um pouquinho de oxigênio. Todas as coisas ruins hão de passar.
 Continuo imperfeita, cheia de manias, cheia de ciúmes. Ainda choro fácil, detesto matemática, ainda sou intolerante e as vezes gosto muito mais de livros do que de gente. Mas são tudo pequenas coisas, se eu não fosse quem eu sou, quem seria? Deixem-se ser um pouco mais, ou um pouco menos do que os padrões exigem. Deixe que partam seu coração de vez em quando, o que é que tem? a gente chora, mas a gente aprende. A gente pensa que vai morrer, mas não vai... não. Deixe-se perder a hora algum dia, ouça música mais alto, coma aquilo que você tem vontade e dizem pra não comer. Acorde mais cedo um dia, durma mais tarde outro, visite gente que gosta de você. Goste de gente que gosta de você. Goste das pessoas, mas goste de verdade. Surpreenda-se, surpreenda quem disse que você não era capaz, e mais importante de tudo, tenha ousadia de ser quem você é.


segunda-feira, 21 de maio de 2012

O nome dela é Beatriz.

Ela costumava me esperar no último ponto, me lembro dela assim, em dias de chuva, dias cinzentos. Só ela sabia colori-los para mim.


Procurei fotos de longos cabelos trançados para ilustrar esse texto, mas não achei nenhum que me lembrasse as ondas dos teus, então lembrei da chuva, dos lugares proibidos, da sua touca molhada, sua voz rouca. Lembrei do cheiro das ondas  dos seus cabelos, do tom da sua voz as vezes um tanto triste, as vezes extasiado  quando você me contava sobre suas bandas, e a alegria que a musica te traz, diferente de tudo que já vi.
Lembrei que você acreditava em mim quando ninguém mais acreditava, e me esperava sempre na chuva, sempre forte, sempre frágil, sempre delicada.
Lembrei o quanto você sabe ser insuportável, e o quanto sabe ser incrível.

domingo, 20 de maio de 2012

Te amo? Não me lembro.

Achei aquela foto que costumava ficar ao lado da minha cama. Minha franja tampava meus olhos e estavamos na sacada da sua casa. Você sorria com os olhos. E parecia dizer "te amo, tata" Parece que ainda consigo ouvir.
Vai ser tudo bem engraçado, daqui uns anos. Eu tenho estudado, larguei todas aquelas porcarias, vez ou outra ainda vou parar na delegacia e me lembro de você rindo quando eu atacava alguma biscate. Me lembro da minha risada, quando você apavorava algum muleque. Vai ser engraçado, quando você achar outro alguém, que esteja do seu lado também, mas duvido que esse alguém seja o que você dizia que eu era "parceira" lembra? Ficava contigo nos bares sujos até amanhecer, depois deitavamos olhando a janela na parede de pedras, até acordar às cinco da tarde. Vai ser engraçado, meu bem, pois já amo outro alguém, mas não minto - não esqueço. Você faz uma falta cinzenta, não sei bem se te quero. Vai ser tão engraçado, quando minha faculdade eu tiver terminado, e na minha casa que será só minha levarei comigo todas essas lembranças agridoces, dos teus meio-sorrisos e do cheiro dos cigarros baratos.
Vai ser engraçado, poder dizer que do meu lado não te quero, nunca mais.
Ainda parece setembro, se te amo? Não me lembro.
 Não sei se já te esqueci de fato, pois no nosso retrato eu pareço tão feliz. E te ligava na madrugada, ofegante, te deixava recados dos quais não se ouvia nunca mais, e me sentia pequena, me sentia envergonhada, mas tudo isso já passou, não passou? Não te quero, mas ainda te espero, com os olhos molhados, insanos setembros.
Teus beijos nunca mais.



Apenas com outras porcarias, Marcela.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

A ultima estação do trem (Cap 6)

Cartas à meu irmão






15 de maio
 Eu não durmo à algumas noites. O rivotril já não me apaga e a fluxotina não me alegra. Dilata minhas pupilas, mas não flui. Não é falta de eficácia psicotrópica, nem intolerância. É uma saudade desbotada. Me falta algo. Seu vocabulário sujo, seus palavrões pronunciados errados. Me falta o soco forte no braço quando eu dizia algo absurdo. Me falta sua cara de merda ao me ver bêbada.
 A verdade é que não sou tão forte quanto você pensa que eu sou, Lucas. Na verdade eu sou fraca e fraca pra caralho, eu só era forte quando você estava por perto.
 Triste mesmo é perceber que de repente meus porres são lúcidos, meu quarto vazio e já não existe hematomas no meu braço. Não tenho a certeza constante de como você está, e a cobaia das minhas experiências culinárias está distante.
 Aonde você está agora? são 02:42... Comendo alguma puta da qual não vou poder te zuar amanhã? Que vontade insana de gritar até você aparecer bem aqui, na poltrona cor de vinho que ainda tem seus rabiscos, segurando minha mão e dizendo pra calar a boca. Vontade de engolir seco o resto das minhas cartelas de comprimido só pra ver se você aparece e me chuta até eu acordar.
 É que eu já tentei tudo, maninho. Fiz o bolo de carne que você gosta, salguei menos o camarão, lavei a mão a camiseta do "laranja mecânica", fiquei sem engraxar o coturno por semanas, passei silenciosamente na praça José Bonifácio olhando sempre pra esquerda, fui sozinha à noite na praça da boys, comprei duas garrafas de chalise, comprei uma barra de diamante negro que não consegui engolir nem cuspir fora, tentei Johnny Cash, Paulo coelho, A bruxa de portobello, o alquimista, diário de um mago, brida, veronika decides to die. Tentei bilhar, cocaína, blues...  Adotei mais um gato, tentei conhaque presidente e vomitei tudo mas a nescessidade de te agarrar bem forte pelas orelhas e vomitar toda a falta que você me faz ainda não passou.
 Então não fique triste se eu contar que tenho mesmo essa vontade insana de tomar todos esses calmantes, por que assim quem sabe eu durmo, quem sabe eu tenho um sonho bem bonito com você. Eu queria mesmo que fosse um sonho, e eu acordasse contigo jogando as chaves da chopperia na minha cara.
  Tentei alguns comprimidos de metadona pra ver se passa. Não passa. Uma semana que você não liga, não me escreve e me resta essa coisa morna de ficar choramingando pelos cantos o quanto você me faz falta e todas as madrugadas vazias tãããão cheias de nós e vá pra puta que pariu com essa sua idéia de que você precisa correr atraz dos seus sonhos e grande porcaria isso tudo! Essa não é uma carta bonita pra você, nem mais um relato do meu amor cinzento. É uma carta onde eu cuspi tudo o que tava entalado aqui no fundo, a verdade é que o tempo não para, é só essa saudade filha da puta que faz as coisas pararem no tempo.
 E nesse inverno a tua foto no vidro da minha janela me lembra as roupas de verão que estão dobradas no fundo das gavetas, por que bem sei que não vou poder usa-las por um longo tempo, mas guardo por que gosto delas, mas guardo por que acredito que o verão há de vir. A verdade é que eu sou só metade.
 Com muita raiva, sua irmã.






domingo, 29 de abril de 2012

Uma tentativa de escrever uma coisa bonita.

Me lembro de você... Ficando quieta na chuva enquanto eu corria para ficar perto do seu coração. E nós nos beijamos enquanto o céu desabava, na fixação de segurar você, Como eu sempre segurei, em seu medo. Me lembro de você, correndo delicada pela noite Você era maior, e mais brilhante, e mais branca que a neve Gritava como faz-de-conta, gritava para o céu. E você finalmente encontrou sua coragem para deixar tudo ir. Me lembro de você, caída nos meus braços Chorando pela morte do seu coração, você era pedra branca, tão delicada, tão perdida no frio. Você sempre foi tão perdida no escuro Me lembro de você como você costumava ser... Lentamente afogada, você era como anjos, muito mais que tudo. Se segure pela última vez, Então, fuja silenciosamente... Pictures of you - the cure. - "Então fiquei assim, pequenininha quase invisível dentro do aconchego de um peito desnudo, enquanto choramingava a política podre, a vodca pura e as pessoas intragáveis que me cercam. Fiquei ali, cercada de algo que não sei direito como definir, algo novo. Alguma coisa bem bonita. E chorava sem saber o porque, chorava pois não entendia minha confusão mental. Chorava porque de tão fria que caía a chuva, fez da noite mais bonita."

Retrô

A primeira palavra que eu disse foi 'não'. Não foi papai, não foi mamãe. Foi um NÃO. Foi um não perfeito, cheio e convicto. Um NÃO que rendeu um documento, onde minha mãe começou relatar as seguintes palavras e façanhas da minha infância. Eu falava como uma louca, palavras pela metade, misturadas, erradas ou inventadas. O tempo passava e desenvolvi alguns hábitos curiosos, alguns anos de terapia para crianças, por que eu gostava muito mais das minhas bonecas sem cabeça. Grande coisa. Eram só bonecas, elas não pensavam. Até os 7 anos minhas bonecas continuaram sem cabeça. Aos nove, era a minha cabeça que havia saido do lugar. Eu questionava pessoas que eu não tinha permissão para questionar. E como diria Raul seixas, (Ah, Raul, fez grande parte da trilha sonora da minha infância, quem te apresentou à mim foi minha mãe e à ela agradeço.) Aos onze anos de idade eu já desconfiava da verdade absoluta. Aos doze eu acendia meus primeiros cigarros e minha mente definitivamente estava em constante conflito. Aos treze, virei uma intelectualzinha insuportável, deixava de comer para passar horas à fio lendo livros empoeirados e fumando sem parar cigarros baratos, trancada, perdida no mundo, ou perdida em mim mesma, não consigo me lembrar direito dos meus treze. Com quatorze eu era uma perfeita rebelde sem causa, ainda mais insuportavel, e como se não bastasse eu também não suportava o mundo, havia uma biblioteca me separando de qualquer vida social concreta, tinha alguns amigos que podia contar nos dedos de uma só mão, e ainda os tenho, os chamo de irmãos. Passei quase os meus 15 em clinicas, as pessoas insistiam em descobrir qual a droga do meu problema. Droga, ah.. quanta droga, em todos os sentidos. Agora estou aqui, com meu íntimo em perfeito estado, apagando memórias de sofrimentos dessegregatórios, curando as feridas expostas, correndo atraz de prejuizos. Posso até dizer, que ando cuidando de mim. Eu esqueci todas aquelas besteiras sabe, toda aquela vontade de morrer, mas ainda existe um pouco de vontade de mudar tudo, de virar o mundo de cabeça pra baixo e sacudir como quem sacode uma toalha de mesa depois do café da manhã. Ainda tenho vontade de muitas coisas que ainda não estou preparada para entender. Aos 14 fui Clarisse, aos 15 fui a garota de baurú. Agora, eu sou apenas eu. Insosso, sem sal meus dezesseis né? mas com muita história.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

O dia que minha alma mudou de cor

Hoje senti vergonha de mim mesma. Mas não foi ruim, não. Sabe, quando li todas aquelas coisas banais que escrevi pra um completo vegetal (em termos imunodeficientes sentimentais ou psicologicamente falando)e então pensei: que tipo de merda eu tinha na cabeça? Eu amei um vegetal. Então sinto tanta desordem em torno do meu passado que quase posso sentir meus olhos mudarem de cor. Não os vejo, claro, pois não estou na frente de um espelho, mas sei que em momentos assim meus olhos ficam cinzentos como trilhos de velhos vagões de trens. Estou fazendo uma completa limpeza em minha alma. Não há ninguém que possa atrapalhar. queimei cartas, deletei textos que poluíam o ambiente onde gosto de escrever. Você poluiu meu passado e isso já basta. Não existirá mais auto piedade da minha parte, nem lágrimas por um vegetal. Não o amo mais. E não entendo por que alguém conseguiria ama-lo. 27 de abril de 2012. O dia que minha alma mudou de cor.

Morangos mofados

Sri Lanka, quem sabe? ela me pergunta, morena e ferina, e eu respondo por que não? mas inabalável ela continua: você pode pelo menos mandar cartões-postais de lá, para que as pessoas pensem nossa, como é que ele foi parar em Sri Lanka, que cara louco esse, hein, e morram de saudade, não é isso que te importa? Uma certa saudade, e você em Sri Lanka, bancando o Rimbaud, que nem foi tão longe, para que todos lamentem ai como ele era bonzinho e nós não lhe demos a dose suficiente de atenção para que ficasse aqui entre nós, palmeiras & abacaxis. Sem parar, abana-se com a capa do disco de Ângela enquanto fuma sem parar e bebe sem parar sua vodca nacional sem gelo nem limão. Quanto a mim, a voz tão rouca, fico por aqui mesmo comparecendo a atos públicos, pichando muros contra usinas nucleares, em plena ressaca, um dia de monja, um dia de puta, um dia de Joplin, um dia de Teresa de Calcutá, um dia de merda enquanto seguro aquele maldito emprego de oito horas diárias para poder pagar essa poltrona de couro autêntico onde neste exato momento vossa reverendíssima assenta sua preciosa bunda e essa exótica mesinha de centro em junco indiano que apóia nossos fatigados pés descalços ao fim de mais outra semana de batalhas inúteis, fantasias escapistas, maus orgasmos e crediários atrasados. Mas tentamos tudo, eu digo, e ela diz que sim, claaaaaaaaro, tentamos tudo, inclusive trepar porque tantos livros emprestados, tantos filmes vistos juntos, tantos pontos de vista sócio-políticos existenciais e bababá em comum só podiam era dar mesmo nisso: cama. Realmente tentamos, mas foi uma bosta. Que foi que aconteceu, que foi meu deus que aconteceu, eu pensava depois acendendo um cigarro no outro e não queria lembrar, mas não me saía da cabeça o teu pau murcho e os bicos dos meus seios que nem sequer ficaram duros, pela primeira vez na vida, você disse, e eu acreditei, pela primeira vez na vida, eu disse, e não sei se você acreditou. Eu quero dizer que sim, que acreditei, mas ela não pára, tanto tesão mental espiritual moral existencial e nenhum físico, eu não queria aceitar que fosse isso: éramos diferentes, éramos melhores, éramos superiores, éramos escolhidos, éramos mais, éramos vagamente sagrados, mas no final das contas os bicos dos meus peitos não endureceram e o teu pau não levantou. Cultura demais mata o corpo da gente, cara, filmes demais, livros demais, palavras demais, só consegui te possuir me masturbando, tinha a biblioteca de Alexandria separando nossos corpos, eu enfiava fundo o dedo na buceta noite após noite e pedia mete fundo, coração, explode junto comigo, me fode, depois virava de bruços e chorava no travesseiro, naquele tempo ainda tinha culpa nojo vergonha, mas agora tudo bem, o Relatório Hite liberou a punheta. Não que fosse amor de menos, você dizia depois, ao contrário, era amor demais, você acreditava mesmo nisso? naquele bar infecto onde costumávamos afogar nossas impotências em baldes de lirismo juvenil, imbecil, e eu disse não, meu bem, o que acontece é que como bons-intelectuais-pequeno-burgueses o teu negócio é homem e o meu é mulher, podíamos até formar um casal incrível, tipo aquela amante de Virginia Woolf, como era mesmo o nome da fanchona? Vita, isso, Vita Sackville-West e o veado do marido dela, ora não se erice queridinho, não tenho nada contra veados não, me passa a vodca, o quê? e eu lá tenho grana para comprar wyborowas? não, não tenho nada contra lésbicas, não tenho nada contra decadentes em geral, não tenho nada contra qualquer coisa que soe a: uma tentativa. Eu peço um cigarro e ela me atira o maço na cara como quem joga um tijolo, ando angustiada demais, meu amigo, palavrinha antiga essa, a velha angst, saco, mas ando, ando, mais de duas décadas de convívio cotidiano, tenho uma coisa apertada aqui no meu peito, um sufoco, uma sede, um peso, ah não me venha com essas histórias de atraiçoamos-todos-os-nossos-ideais, eu nunca tive porra de ideal nenhum, eu só queria era salvar a minha, veja só que coisa mais individualista elitista capitalista, eu só queria era ser feliz, cara, gorda, burra, alienada e completamente feliz. Podia ter dado certo entre a gente, ou não, eu nem sei o que é dar certo, mas naquele tempo você ainda não tinha se decidido a dar o rabo nem eu a lamber buceta, ai que gracinha nossos livrinhos de Marx, depois Marcuse, depois Reich, depois Castañeda, depois Laing embaixo do braço, aqueles sonhos tolos colonizados nas cabecinhas idiotas, bolsas na Sorbonne, chás com Simone e Jean-Paul nos 50 em Paris, 60 em Londres ouvindo here comes the sun here comes the sun little darling, 70 em Nova York dançando disco-music no Studio 54, 80 a gente aqui mastigando essa coisa porca sem conseguir engolir nem cuspir fora nem esquecer esse azedo na boca. Já li tudo, cara, já tentei macrobiótica psicanálise drogas acupuntura suicídio ioga dança natação cooper astrologia patins marxismo candomblé boate gay ecologia, sobrou só esse nó no peito, agora faço o quê? não é plágio do Pessoa não, mas em cada canto do meu quarto tenho uma imagem de Buda, uma de mãe Oxum, outra de Jesusinho, um pôster de Freud, às vezes acendo vela, faço reza, queimo incenso, tomo banho de arruda, jogo sal grosso nos cantos, não te peço solução nenhuma .você vai curtir seus nativos em Sri Lanka depois me manda um cartão-postal contando qualquer coisa como ontem à noite, na beira do rio, deve haver uma porra de rio por lá, um rio lodoso, cheio de juncos sombrios, mas ontem na beira do rio, sem planejar nada, sabe, por acaso, encontrei um rapaz de tez azeitonada e olhos oblíquos que. Hein? claro que deve haver alguma espécie de dignidade nisso tudo, a questão é onde, não nesta cidade escura, não neste planeta podre e pobre, dentro de mim? ora não me venhas com autoconhecimentos-redentores, já sei tudo de mim, tomei mais de cinqüenta ácidos, fiz seis anos de análise, já pirei de clínica, lembra? você me levava maçãs argentinas e fotonovelas italianas, Rossana Galli, Franco Andrei, Michela Roc, Sandro Moretti, eu te olhava entupida de mandrix e babava soluçando perdi minha alegria, anoiteci, roubaram minha esperança, enquanto você, solidário & positivo, apertava meu ombro com sua mão apesar de tudo viril repetindo reage, companheira, reage, a causa precisa dessa tua cabecinha privilegiada, teu potencial criativo, tua lucidez libertária e bababá bababá. As pessoas se transformavam em cadáveres decompostos à minha frente, minha pele era triste e suja, as noites não terminavam nunca, ninguém me tocava, mas eu reagi, despirei, voltei a isso que dizem que é o normal, e cadê a causa, meu, cadê a luta, cadê o po-ten-ci-al criativo? Mato, não mato, atordôo minha sede com sapatinhas do Ferro’s Bar ou encho a cara sozinha aos sábados esperando o telefone tocar, e nunca toca, neste apartamento que pago com o suor do pó-ten-ci-al criativo da bunda que dou oito horas diárias para aquela multinacional fodida. Mas, eu quero dizer, e ela me corta mansa, claro que você não tem culpa, coração, caímos exatamente na mesma ratoeira, a única diferença é que você pensa que pode escapar, e eu quero chafurdar na dor deste ferro enfiado fundo na minha garganta seca que só umedece com vodca, me passa o cigarro, não, não estou desesperada, não mais do que sempre estive, nothing special, baby, não estou louca nem bêbada, estou é lúcida pra caralho e sei claramente que não tenho nenhuma saída, ah não se preocupe, meu bem, depois que você sair tomo banho frio, leite quente com mel de eucalipto, gin-seng e lexotan, depois deito, depois durmo, depois acordo e passo uma semana a banchá e arroz integral, absolutamente santa, absolutamente pura, absolutamente limpa, depois tomo outro porre, cheiro cinco gramas, bato o carro na esquina ou ligo para o cvv às quatro da madrugada e alugo a cabeça dum panaca qualquer choramingando coisas tipo preciso-tanto-uma-razão-para-viver-e-sei -que-essa-razão-só-está-dentro-de-mim-bababá-bababá e me lamurio até o sol pintar atrás daqueles edifícios sinistros, mas não se preocupe, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais autodestrutiva do que insistir sem fé nenhuma? Ah, passa devagar a tua mão na minha cabeça, toca meu coração com teus dedos frios, eu tive tanto amor um dia, ela pára e pede, preciso tanto tanto tanto, cara, eles não me permitiram ser a coisa boa que eu era, eu então estendo o braço e ela fica subitamente pequenina apertada contra meu peito, perguntando se está mesmo muito feia e meio puta e velha demais e completamente bêbada, eu não tinha estas marcas em volta dos olhos, eu não tinha estes vincos em torno da boca, eu não tinha este jeito de sapatão cansado, e eu repito que não, que nada, que ela está linda assim, desgrenhada e viva, ela pede que eu coloque uma música e escolho ao acaso o Noturno número dois em mi bemol de Chopin, eu quero deixá-la assim, dormindo no escuro sobre este sofá amarelo, ao lado das papoulas quase murchas, embalada pelo piano remoto como uma canção de ninar, mas ela se contrai violenta e pede que eu ponha Ângela outra vez, e eu viro o disco, amor meu grande amor, caminhamos tontos até o banheiro onde sustento sua cabeça para que vomite, e sem querer vomito junto, ao mesmo tempo, os dois abraçados, fragmentos azedos sobre as línguas misturadas, mas ela puxa a descarga e vai em empurrando para a sala, para a porta, pedindo que me vá, e me expulsa para o corredor repetindo não se esqueça então de me mandar aquele cartão de Sri Lanka, aquele rio lodoso, aquela tez azeitonada, que aconteça alguma coisa bem bonita com você, ela diz, te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia, me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez, que leve para longe da minha boca este gosto podre de fracasso, este travo de derrota sem nobreza, não tem jeito, companheiro, nos perdemos no meio da estrada e nunca tivemos mapa algum, ninguém dá mais carona e a noite já vem chegando. A chave gira na porta. Preciso me apoiar contra a parede para não cair. Por trás da madeira, misturada ao piano e à voz rouca de Ângela, nem que eu rastejasse até o Leblon, consigo ouvi-la repetindo e repetindo que tudo vai bem, tudo continua bem, tudo muito bem, tudo bem. Axé, axé, axé! eu digo e insisto até que o elevador chegue axé, axé, axé, odara!

segunda-feira, 12 de março de 2012

Eu e Nando reis.

Usou com força uma caneta azul
e as frases de caneta, cê não pode apagar.
As lágrimas que caem deixam mais azuis as letras
e os olhos não conseguem enxergar
Se você piscar tudo some
E o que `cê vai querer
Ver quando você voltar a ver?
Não o breu, quando os seus olhos abrirem
Pintou os olhos só depois saiu
com lápis, cor preta, que só poderia borrar.

As lágrimas que molham esses olhos crus
São pretas e os olhos não conseguem enxergar
Se você discar tudo some
E o que cê vai querer
Ver quando você voltar a ter?
Não sou eu, o que os seus lábios nunca me dizem...
E o que não estiver
Só não será lembrado
no mundo que couber
no silêncio de um retrato.
Mas se você olhar vai ver
que tudo está errado
porque ao seu lado
não existe um lugar
para mim.....

-
Queria consegui dizer
O quanto eu sofri
E a falta de você me faz
Diferente até de mim
Tentei fugir, pra onde?
De casa não saí
Drogadas madrugadas sobravam...
Sobrava um vazio
.

-
Um belo dia resolvi mudar
E fazer tudo o que eu queria fazer
Me libertei daquela vida vulgar
Que eu levava estando junto a você.
Fui andando sem pensar em voltar
Sem ligar pro que me aconteceu
Um dia ainda vou lhe telefonar
Pra lhe dizer que aquele sonho cresceu

...

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Let's dance!


My sharona!
O que seria de mim, sem minha morena?
Vem, e não demora. Que ainda temos muitos planos pra fazer. Viajar pelo mundo, pegar carona na estrada, ver os trens, ver o mar. Aonde você for eu vou. Aonde eu ir você estará, certo?
Vem que a saudade ja aperta, pro seu brilho minha janela fica sempre aberta.
Vem e me promete que fica a noite toda. Me promete que ainda vou ter seu colo-jeans-rasgado pra chorar quando eu precisar.
Vem que temos muitas frases, tesouras e canetas. Nós duas sabemos construir um mundo só nosso, com as nossas bandanas amarradas, andar sem medo pela madrugada.
Me promete que ainda teremos muitos e muitos anos juntas, Muito tempo pra poder picotar o cabelo quando tiver com raiva. Muitos xingamentos inventados na hora seguidos de uma guerra de travesseiros.
Vem que eu já não vejo a hora, e meu espelho estreito sente falta das nossas brigas por espaço, e das maquiagens borradas. Até meu liquidificador sente falta dos nossos fabulosos drinks, do qual bebiamos um copo e vomitavamos três dias, er.
Eu vou estar aqui por você sempre, quero cuidar de você de todas as formas que eu puder, e não te deixar cair. E se for pra cair, me puxe junto, pra eu poder ralar o meu joelho também. Mesmo que seja numa poça de lama, afinal nossos all star's merecem um pouco de sujeira pra contar, das nossas noites insanas, das nossas ressacas monstruosas.
Quando você estiver comigo a chuva vai parar. E se não parar a gente dança na tempestade, depois de rasgar mais algumas camisetas.
Morena, eu tenho um pra acender pelas ruas, pra brindar o infinito de nós duas!

afinal, quem liga pra intervenção divina? VOCÊ VEM COMIGO PORQUE EU AMO SEU ROSTO. sz'

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A pergunta que eu odeio


Acontece mais ou menos assim
Ontem antes de dormir rabisquei por cima de várias páginas com seu nome com letras grandes em tinta preta "Eu não preciso de você" "eu vou esquecer" "eu não vou me cortar" "eu não vou mais escutar a dor" "eu sou feliz"

Colei tudo aonde eu seja obrigada a ler todos os dias. Fazia parte do meu jogo, não escrever mais aqui também, mas droga.. eu sempre acabo voltando. Eu sempre faço tudo errado, não faço? Talvez eu goste um pouco do errado. Talvez eu goste muito.
É dificil deixar o que foi minha vida para traz. É dificil atear fogo em todas as memórias, porque elas são como aquelas malditas velinhas que se reacendem.
Eu odeio velinhas.
Eu odeio muita coisa.
O que eu mais odeio então vem sendo uma pergunta repetitiva e desgastante de responder, Alguma vez você já forçou um sorriso? pois é, eu tenho que forçar todos os dias, varias vezes ao dia até.
As pessoas me perguntam: Você está bem?
- sim. (tirando a falta absoluta de qualquer vontade de levantar da cama, tirando a pressão, a abstinencia, a falsidade, a dor, as mentiras, o nojo, os lapsos, os malditos remedios, os pesadelos, a insônia, as poesias tortas, o sangue, o medo, a indeferença, o abandono, a saudade, a injustiça, o desespero, Estou ótima obrigada.
E a vontade de responder, que porra! eu estou tentando parecer bem então por favor, não atrapalhe a minha perfomace.


Ser atriz da novela ridicula passada em horario nobre na vida dos outros que é a minha própria vida, cansa. Alguem aí pode gritar: "Corta!" ?

domingo, 22 de janeiro de 2012

Memórias...


Partir. As vezes não parece tão estranho pra mim.

Aprendendo sem você.



Primeiros minutos do dia 23 de Janeiro
(Uma carta destinada à alguém sem nome nem rosto)
Querido, Eu tive aqueles sonhos denovo.
Você sabe quais. Aqueles que me faziam te agarrar bem forte e enquanto minhas lágrimas caiam no seu peito desnudo, voce ficava em silêncio... apenas me segurando... até passar.
Quanta coisa aconteceu desde que você foi embora. Hoje é dia vinte e três... como é que vão as coisas pra você de mês em mês? eu Queria te contar tanta coisa, ah, como eu queria. Queria que você visse como estou melhor. Como aprendi a me controlar um pouco mais. As pessoas veem, sabe? acho que estou indo até bem, por assim dizer. Uma coisa que eu aprendi é calar a boca e sorrir. Quando me dizem seu nome, ou me contam alguma coisa sua. Esconder a mágoa, a dor, a saudade.
Aprendi que pedaços frios e sem vida de metal não devem mais ficar arrancando a minha vida. Aprendi a fazer seu prato preferido, do jeito que você gosta, com azeitonas roxas.
Ah... Hoje eu aprendi que você nunca vai ir embora.
Você se foi mas, embaixo da minha pele ainda esta cravado seu nome.
Você parecia tão bem no meu sonho.
Com saudade, amor e outras porcarias.


Marcela.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Sete anos se passaram tão rápido


Uma foto pra relembrar a história de dois monstrinhos

Bem, ele era assim. Ele ainda É assim. Mesmo com toda bobagem quase obrigatória da infância, sempre manteve o ar de superior. O ar de menino inteligente mesmo antes da inteligência fazer algum sentido critico construtivo ou destrutivo que seria muito utilizado no futuro.
Futuro.. Quem diria, futuro? Pregou tantas peças. O futuro que hoje é passado e no passado que transformou o presente momento em desejos de mais futuros construtivos.
Ela era assim. Quieta e irritante ao mesmo tempo. Auto-afirmação, rebeldia desde bem pequena, ainda menor do que continuo. Ela gostava dele. Ele não conhecia ela.
Eles se conheceram e algo ali derivou de uma palavra muito mais intensa do que apenas gostar.
Mais alguns 24 meses e então eles eram amigos.
Daqueles tipo amigos para sempre. "Sem saber que o pra sempre, sempre acaba"
E mesmo quando acabou ainda tinha vestigios da lourinha com voz estridente e do menino alto que à levava para casa de cavalinho depois das aulas.
E foram tantas aulas, tantos dias. Tanto chocolate e tantos risos.
Depois de todas as lagrimas e distância que o tal de futuro mal planejado havia feito uma reserva de infinitas dores, mas ainda assim, a saudade mais bonita.
Seguiram pela mesma rodovia, mas em locomotivas diferentes. Ela foi deixada para traz. Não, ela se deixou para traz. Faltando um pedaço e com o coração sangrando exposto, totalmente desarmada. Ela ainda sentia falta dele. Ele sentia falta dela.
Eles vão passar uma borracha em todo o sangue derramado nas páginas tristes, Por que afinal, nossa borracha é daquelas que "apagam até caneta"

Com amor,
sua pequena.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Setembro.

Você poderia estar feliz e eu não saberei... Mas você não estava feliz no dia em que te vi partir. E todas as coisas que queria não ter dito ecoam repetidamente na minha cabeça até se transformar em loucura, até se transformar nessas madrugadas mal dormidas e nos sonhos perturbadores que me fazem levantar da cama e escrever. Só isso, só posso escrever.
É muito tarde para te lembrar de como nós éramos? Mas não os nossos últimos dias de silêncio, gritos, imagens borradas, e lembranças picotadas. Flashs, apenas Flashs da lembrança da sua voz me dizendo coisas tão cruéis.
É realmente não sei se me sinto feliz ou triste em saber que a cada dia venho esquecendo um pouco do tom da sua voz. E venho me esquecendo do seu numero de telefone. Quero que continue assim até sumir.. Até que não reste mais nada nenhum vestigio de pólvora da bala que você afundou no meu peito. Até que a lembrança dos machucados vá embora. Até que as cicatrizes no meu braço... sumam.
Mas das poucas coisas que me lembro, a maioria delas me faz voltar ao dia que te deixei sair pela porta.
Você poderia estar feliz, eu espero que esteja.
Você me fez mais feliz do que jamais fui... E mais melancólica também. E de alguma maneira tudo o que eu tenho cheira a você. E pelo mais curto momento, nada é verdade.
Agora faça as coisas que você sempre quis fazer. Não estou mais do seu lado em lágrimas tentando te impedir nos seus impulsos. Isso não é bom? Não pense, apenas faça.
Muito bem... Sente-se sozinho na sua cadeira elétrica. Eu não vou mais ficar tomando chocs emocionais por você. Não estou mais pronta pra te ver morrer, a cada dia, um pouco mais.
Olhe a lua sozinho na varanda. A cada setembro me esquecerei um pouco mais de você.
E já foram muitos setembros.

... Com amor e outras porcarias,
Marcela.