Páginas

segunda-feira, 28 de março de 2011

Não é engraçado?

Não é engraçado quando você está sempre correndo? Não é engraçado quando seus amigos desprezam aquilo que você se tornou? Não é engraçado quando você está tão "alto"... que bem, nem consegue voltar? Não é engraçado quando você SABE que vai morrer jovem?
ah.. é tão engraçado.
Não é engraçado quando você se sente como se tivesse uma arma? Não é engraçado quando você simplesmente parece não conseguir encontrar sua lingua? Ela está enterrada tão fundo, em algo que realmente atormenta. Bem, então você vem a mim e pode cuspir na minha cara, que nem vou sentir isso.
Eu bato meu punho contra o vidro, e nem mesmo sinto isso. Acontece tão rápido.
Não é engraçado quando você nem consegue dizer o nome da pessoa que você ama? Não é engraçado quando... essa pessoa te abandona e te deixa correndo, não é engraçado quando você quebra tudo que demorou pra construir? não é engraçado quando você sabe que vai morrer jovem?...

É tão engraçado.

A vida é linda.

Você não pode desistir até que tente. Você não pode viver até que morra, você não pode aprender a contar a verdade até que aprenda a mentir...
Você não pode respirar até que sufoque, você precisa rir quando você é a piada.
Não há nada como um funeral para você se sentir vivo
Apenas abra seus olhos! Veja que a vida é linda, você juraria? juraria por sua vida mediocre que ninguém vai chorar no meu funeral?
Eu sei de coisas que você não sabe, eu fiz coisas que você não faria.
Não há nada como um rastro de sangue para achar o caminho de casa
Estava esperando meu carro fúnebre mas o que veio foi muito pior...
Nada como um funeral para eu me sentir viva.
Apenas abra seus olhos, veja que essa porra de vida é linda.

Marcela (e Letícia)

Marcela corta os pulsos por não ter à quem falar.
Letícia rói as unhas esperando alguém chegar.
Marcela tem o rosto todo manchado de batom de uva, Letícia rasga as roupas e toma banho de chuva.
E à noite elas vão se reencontrar
E as lágrimas no rosto de Marcela vão secar
E os cortes no corpo de Letícia vão cicatrizar
Vão cicatrizar
Marcela acorda tarde pra não ver o sol nascer.
Letícia traça planos pro que não vai acontecer.
Marcela traz na bolsa balas, Prozac e espelhos
Letícia usa colírio pra esconder os olhos vermelhos
Duas vidas, duas luzes, dois sentidos conturbados,
Duas almas, duas calmas, dois valores, dois pecados.
Dois discos e dois hinos, dois destinos e um segredo.
Mas dentro do meu livro estão guardados os seus desejos.



terça-feira, 22 de março de 2011

noventa e nove

Eu que estou aqui, plena três da tarde e ainda não vi a luz do sol. Exeto pelo vão da janela, o irritante raio que quando fecho os olhos continua na minha vista. Logo eu que me encontro bem aqui, com um vestido bem lavado, o pulso cheirando à rosas, um tanto de maquiagem pra esconder as olheiras completamente roxas. O suficiente bocado de maquiagem pra esconder também minha nescessidade de me maquiar. Pareço perfeitamente bem, segurando minha xicára branca de cappucino em frente ao computador. Mas estou entupida de remédios. Tantos que já nem sei pra quê ou porquê. Aqueles para o sono, quando me vi na última noite revirando entre meus lençóis, citando o mundo entre poesias silênciosas. Aqueles pequenos comprimidos que me dizem que fará bem, mas são mais como algemas em minha mente. Aqueles tantos outros pra alergias, aqueles manipulados que tanto tentam me manipular, aqueles pra previnir tal ou outra coisa. Mas é tudo tão inutil como minha verdadeira infermidade. Aquela que me leva de fato ao inferno todas as noites. Aquela que não inventaram a cura. Tenho vontade de te agarrar bem forte pelas orelhas e cuspir todas as minhas dores bem no meio da sua cara.
Porque aqui estou eu, com um sorriso de plástico, os dentes bem escovados, o cabelo tão perfumado que mal dá pra notar a fumaça que carrego junto à alma, dos 2 maços que fumo por dia. Os maços que fumo tentando transformar em cinzas a minha dor, os maços que fumo querendo que você queime no inferno, querendo que seu coração termine sujo e negro no cinzeiro ao lado da minha cama.
Eu que já não tenho vontade de poetizar, eu que já não vejo graça na noite, que já não me importo com os meus antigos conceitos, EU, EU, EU! que porra sou EU??
essa que com quinze anos e uma puta fuça de acabada, passo por bares com cara de dezoito, com alma de noventa. Noventa e nove mil lágrimas que derramei por um filho de uma puta. E agora, aqui, com minha caneca branca na mão e noventa e nove comprimidos no corpo, eu prefiro morrer do que derramar mais uma lágrima por você.
Letícia diz que um dia ela e eu vamos terminar numa cama de motel, cheirando vinte gramas e rindo disso tudo, bem, é claro, toda essa palhaçada não podia terminar em outra coisa: Cama.
Eu me lembro de quantas vezes rolei na minha tentando te matar dentro de mim.
E todo meu ódio e toda minha dor sempre terminava na mesma cena que se repetiu tantas vezes em qualquer beco escuro que pudéssemos. E quando te evito você não entende que é quase (ainda pior) que jogar todas minhas capsulas na pia do banheiro. Você é a droga que há em minha veia, você é o lixo de tudo que vejo, a escória de todo meu sentimento. Os dois desejos flamejantes que consomem minha alma nesse momento? Te abraçar. E que você morra de todas as noventa e nove formas mais dolorosas do mundo, todas de uma única vez.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Muro velho

Mais uma madrugada sem meu velho amigo.
Bem, ele me amou mais do que deveria, e agora ele se foi, sem eu poder dizer tchau.
Queria que ele estivesse aqui, nesse mesmo velho muro. Roçando o focinho no meu focinho. Tocando as patinhas nas minhas patas.
Ah, era tão meu.
Me entendia sem pedir nada em troca.
Me ouvia como quem tenta entender. Com sua voz rouca e seus olhos que pareciam alfinetes tortos, ele me dava todo o carinho que eu precisava pra sentir a brisa da madrugada em paz. Como eu queria meu pequeininho aqui, comigo. Pra dividir esse velho muro e esse cigarro barato. (acho que se ele pudesse falar, reclamaria da fumaça desse cigarro, porém, duvido que saíria do meu lado por isso)
Ele estava do meu lado. E não está mais.
Queria que a lingua aspera dele secasse minhas lágrimas agora, meu velho, que vivia no velho muro.

sleep to kill the pain.