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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Por quanto tempo só nós dois?

Passamos muito tempo sentados na calçada, falando sobre tudo e não dizendo nada. O seu sorriso vale mais que mil palavras, deixa que o futuro... fica pra depois.
Depois da meia noite, nós acendemos as luzes da cidade, nos abraçamos e ficamos juntos, até nascer o sol.
[Capital inicial]

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O primeiro coração que parti.

Esse é um dos textos que achei num caderno empoeirado, de alguns anos atraz.


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Noite rara. Muitos diziam ser tudo igual, mas eu pude sentir no ar, a brisa se modificava a cada suspiro. Um vazio sufocante passeaca dentro do meu peito. Era como se eu já soubesse.
Aqueles longos minutos de silêncio me davam arrepios, as linhas eram cruzadas e meus olhos com os delas também. Olhos imensos e marejados que transpassavam muito mais do que dor, algo que eu nunca vi antes, uma coragem vibrante e em um impulso ela me abraçou, forte como nunca. Não houve uma estrela sequer no céu para testemunhar o ato. Eu mal me movi, e sinceramente eu preferia não acreditar. Só agora acredito, só agora que parei de tremer. Quando senti as lágrimas dela cortando meus ombros, pude saber que era uma despedida. A mais profunda da minha vida. Dos meus meros doze anos.
Os olhos imensos dela eram negros como aquela maldita noite.
Eles miravam para a lua, enquanto eu a olhava penetrantemente. Olhava cada traço de sua face, seus cabelos curtinhos que beijavam o pescoço.
Ela reclamou, que eu a olhava profundamente.
Então eu disse: Ora mas tudo que vivemos foi profundamente.
Sorri, mas ela não retribuíu...
Nunca havia visto aquela expressão nos olhos dela dessa forma antes. Nunca em todos os nossos anos de cumplicidade.
Num suspiro de raiva e decisão, ea se foi.
Não disse adeus nem olhou para tráz, apenas correu, como se houvesse a possibilidade de fugir da dor.
Era uma pena, ve-la ir embora dessa forma. Ve-la partindo era sufocante, não senti minhas pernas mas me evantei e corri, procurando por seus passos incertos, nunca deveria ter sido assim, estava tudo ao avesso.
Eu conhecia cada um dos nossos lugares perfeitos, Nossos lugares preferidos. Mas era tão confuso, já se passava da meia noite, onde ela foi? Eu demorei tanto tempo assim para me levantar?
Meus calcanhares giraram e eu refiz o caminho.
Onde quer que ela esteja, estará bem. Ela sabe se virar.
Pelo caminho de volta pra casa, chutei pedras e garrafas. Três pedras, pra ser exata. Cada passo me lembrava seu sorriso. O que havia se perdido e agora era mesmo, só lembrança.
Acho que quebrei meu primeiro coração.
Então só restava uma certeza, eu a perdi.
Mas que perder, seja o melhor destino.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Caixa de musica.

O quarto estava escuro. Havia um cheiro de pó e mofo, dos quais as narinas delicadas dela provavelmente já haviam se acostumado.
Apenas um fio de luz escapava pela cobertura falhada do telhado, iluminava um rosto pálido e com uma expressão que eu não conseguiria descrever. Era um misto de medo e indiferença, Logo eu, que jamais pensei que estes poderiam estar unidos.
O lugar emanava uma sensação sinistra, apesar de estar empoeirado, permanecia perfeitamente arrumado. No chão, duas pequenas caixas musicais tocavam o único som alem da própria respiração dela. Uma das caixas havia parcialmente parado de funcionar, travando a minúscula sapatilha da bailarina em um dos vãos da caixinha, produzindo um barulho irritante enquanto lutava para continuar a rodar. Mas ela não parecia se importar... Eu diria que estava mais preocupada em tentar ouvir as batidas do próprio coração, ou da pulsação de sua veia, para se certificar se ainda vivia. Os olhos dela se dirigiam para lugar nenhum. Eles não possuíam luz, não possuíam direção. O castanho de sua irís já estava opaco, ninguém se surpreenderia se realmente não estivesse olhando para lugar nenhum. Ou talvez ela estivesse observando a morte... Que chegava cada vez mais perto, cada milímetro mais constante, Mais precisa. As velas iam se apagando lentamente com o passar das horas. Velas eram melhores que luz, ela dizia. Porque a luz é tão fictícia, e de mentiras ela estava farta. Um espelho coberto por uma fina camada de poeira refletia os cabelos dela espalhados para fora da cama.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

A comédia da morte.

Está tarde e frio. Estou aqui, pensando que talvez tenha sido eu quem transformou minha vida em algo que eu não gosto de ver.
O vazio já não me incomoda. Por onde quer que eu corra tudo é nada. Um nada um pouco tingido de tristeza quando lembro do passado.
Ora estou em um canto, brigando com os fantasmas. Ora estou caminhando por algum lugar cinzento e úmido sentindo falta de alguma coisa. Alguma coisa que não sei bem o que é.
Talvez essa coisa esteja ai com você. Talvez seja apenas falta de alguém que deite do meu lado e me espere dormir. Talvez saudade de alguém pra me segurar bem forte até a dor passar. Até eu parar de tremer e de empurrar meu corpo contra a parede. Alguém pra me ouvir mesmo quando qualquer frase que eu diga não faça o menor sentido. Talvez essa coisa que eu procuro esteja no buraco das suas mentiras mal contadas. Ora eu desejo ter descoberto tudo bem antes, Ora eu desejo que estivesse sendo enganada Até hoje, e dessa forma, pra sempre.
Talvez essa coisa esteja alem dessa vida. Talvez todos nós sejamos uma piada de mal gosto. Aqueles que crêem encontrar essa tal coisa na morte, e dessa forma acabam chamando-a, esses são as piadas mais engraçadas. Alguém deve estar rindo de um suicida no exato momento. Alguém deve estar rindo do meu desespero quieto. Alguém deve estar tentando puxar minhas cordas e manipular minha dor. Outra pessoa deve estar movendo o chão abaixo de mim tentando me fazer cair...
No meu caso eu me mato aos poucos. Eu mato as madrugadas e em algumas delas eu morro. Devo ser a piada mais interessante pra alguém. Alguém em algum lugar não deve se cansar jamais de me ver morrendo. De me ver morta todos os dias.
Quem dera se você conseguisse mentir tão bem quanto omitir. Quem dera se minha ligação contigo fosse mais fraca, a ponto de não ser obrigada a saber de coisas das qual nenhuma mulher merece saber, pelo menos não dessa forma, tão cruel e destruidora. Quem dera se eu pudesse ter escolhido a escuro ao invéz do frio. Quem dera se eu fosse burra. Quem dera se eu fosse perfeita.
Afinal a burrice é o preço da felicidade.

Doce suicídio.


Rua Still, 128.
 O telefone toca, ecoa na casa. Água por todas as partes, não há ninguém para atendê-lo?
 Como envolta por uma cor envelhecida, as lembranças começam a se reconstruir na mente tão assustada que já havia esquecido a razão de tudo.
  Ouço uma voz, doce voz... Que eu já conhecia, a minha voz.
Não olhe agora, mas você está sozinho. Seus olhos se fecham, a culpa te cegou.
 Não olhe agora, porque estou perdida, isso me incomoda. Os cacos escaparam da minha mão acidentada, tingindo de vermelho as cartas amassadas no meu colo, os cacos estilhaçaram ao chão e ninguém vai me ajudar a recolher, por que... Não olhe agora, mas eu também estou sozinha.
  Conheço seu sorriso, conheço seu cheiro, conheço seus medos e sei que assim como eu, você não está feliz.
  O que você diria se hoje fosse o dia do meu fim?
Diria que sente muito... ? Ou que eu vou para o inferno?
  O inferno é tão vasto quanto minha respectiva consciência.
Água escorre, baila no ar. Despejam-se e se juntam cada gota, na porcelana reluzente da banheira branca; Refletem minha imagem tão nítida quanto à de um míope que acaba de ter seus óculos quebrados. Ou seria eu a míope? Que não enxergou o começo do fim há tanto tempo?
  Dispo-me das minhas vestes. A água quente me chama, tenho a impressão de que tudo que me deseja no mundo é apenas a banheira branca. Meus cabelos se imergem totalmente na  água, que começa a se tingir pelo sangue da minha mão acidentada, ou talvez proposital. Os reflexos avermelhados da água começam a se fazer na luz do banheiro, Meus cabelos espalhados ali. É, daria uma pintura, Se algum pintor fosse capaz de transpassar da realidade para a tinta, a minha dor.
  Como soldados, feridos, ainda conseguem sorrir por darem a vida pela pátria, um sorriso leve faz tremer os cantos de meus lábios.
  Levanto-me. As gotas passeiam lentamente pela minha pele. Apanho a toalha branca, que se mancha igualmente do vermelho. O secador já ligado na minha mão faz meus fios se espalharem dessa vez ao vento.
  O vento que toca meu rosto, o frio que congela minha alma, eu abro os olhos. É loucura, mas no reflexo dos meus olhos eu vi os seus.
 Caminho até a banheira, que já quase transborda. O frio atingiu minha pele dessa vez, e meus lábios já quase sem pigmentação, pálidos... Dentro da banheira o aparelho ainda ordena que o vento espalhe os fios de meu cabelo.
  O que você diria se... Eu morresse hoje?
Um fio de medo eletriza meu espírito, OLHE AGORA. Eu não estou sozinha dessa vez. Porque eu já vi o anjo negro ao lado do relógio, ao lado da foice.
 Um sorriso estranhamente perturbado invade meu rosto antes sem expressão.
  “Eu me vou, meu amor.”
As palavras saíram involuntariamente da minha boca, e eu decidi partir.
 Meus dedos frios lentamente vão se libertando da pressão, se soltando, um a um.
  O secador lançado na banheira.
Eletriza a água, eletriza a alma, alivia.
Eu decidi acabar com tudo de uma vez... Imersa ao meu sangue, imersa as marcas do meu passado, a minha dor perpétua.
  Você sabe que eu morreria por você. Você sempre soube.
Eu morreria várias vezes, se fosse preciso.
  Só por você, que nunca vai entender, porque um coração destruído pode destruir uma vida. Eu não suportaria te perder... Cronicamente, dessa forma.
  Então vi ali meu corpo sem vida.
O soldado chegou ao seu limite...
 Não é porque eu dei a vida por você, que significa que eu me importo.
  Suicídio na Rua still. Doce suicídio, de um coração multilado.
  “Não há sentido em viver o que já não emite vida. Se hoje eu morri por ódio, é porque eu já havia matado minha alma antes, morrido de amor.”
 
Fui-me embora, acabei com tudo, eu parti.